Linguagem de programação ajuda a aprimorar o raciocínio lógico de jovens
Em tempos de intenso fluxo de informações, tornar a escola um ambiente mais atrativo é o constante desafio dos profissionais da Educação. Diante deste cenário, para ensinar o mesmo conteúdo professores estão utilizando a tecnologia como aliada para tornar o processo de aprendizagem mais atraente e para facilitar o acesso aos conteúdos de disciplinas, geralmente temidas pelos estudantes.
Em tempos de intenso fluxo de informações, tornar a escola um ambiente mais atrativo é o constante desafio dos profissionais da Educação. Diante deste cenário, para ensinar o mesmo conteúdo professores estão utilizando a tecnologia como aliada para tornar o processo de aprendizagem mais atraente e para facilitar o acesso aos conteúdos de disciplinas, geralmente temidas pelos estudantes.
No Amazonas, alunos dos Centros de Educação de Tempo Integral (Cetis) estão imersos neste novo mundo, como é o caso dos estudantes dos Programas Estratégicos de Indução à Formação de Recursos Humanos em Engenharias e Tecnologias da Informação no Amazonas (Pró-Engenharias/RH – TI/Ceti), que utilizam a tecnologia no processo de aprendizagem. Os projetos recebem aporte financeiro do governo do Estado, via Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).
Para falar sobre a importância desses projetos e do uso da tecnologia como aliada no processo de aprendizagem, a Agência FAPEAM entrevistou o subcoordenador da área de tecnologia da informação do programa RH-TI e vice-coordenador do Programa de Pós-graduação em Informática da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Raimundo Barreto. Confira a entrevista:
Agência FAPEAM: O senhor concorda que a linguagem de programação e/ou as novas tecnologias ajudam no processo de ensino aprendizagem?
Concordo que é uma nova forma de ensino, mas não é a única. É importante o uso de tecnologia em sala de aula, principalmente diante de uma geração completamente conectada, como é a atual. Essa geração está fortemente ligada com a tecnologia, novos dispositivos, equipamentos eletrônicos e, incrivelmente, não precisa ser treinada nelas, mas já nasce sabendo.
Os alunos não se adequam mais ao antigo estilo de aulas, que só se baseiam na mera transmissão de conhecimentos. A nova geração quer participar ativamente do processo ensino-aprendizagem, quer resolver desafios, buscar soluções criativas, enfim, quer novas formas de aprendizado.A Internet faz parte do dia a dia deles, assim como os carrinhos de rolamentos e brincar de manja fez parte da minha. Essa geração está tão conectada que, muitas vezes, consegue buscar uma informação na Internet mais rápido do que os seus próprios professores.
Concordo que o uso das tecnologias e de linguagens de programação tem o potencial de modificar os modos de pensar, de ensinar e de aprender, e até mesmo de ver o mundo. Mas, a tecnologia por si só não muda nada. A verdadeira mudança depende, primordialmente, da capacidade criativa do professor, que pode usar a tecnologia, ou não, e ainda assim cativar os seus alunos. Ou seja, você não precisa necessariamente abusar da tecnologia em detrimento de uma metodologia que favoreça a inovação em sala de aula em todos os aspectos. Inovação tem a ver com a exploração de novas ideias de forma que pouco se pareça com padrões anteriores.
Uma dessas abordagens inovadoras consiste em introduzir linguagens de programação desde cedo nas escolas. Não tenho absolutamente nada contra, até porque eu sou professor da área de computação, mas principalmente por causa dos grandes benefícios que isso pode trazer aos alunos. Só que não deve ser a única ‘carta na manga’.
Particularmente, gosto de laboratórios que possam mostrar na prática os conhecimentos teóricos. É bom você ir a um laboratório de física, fazer o cálculo e, em seguida, fazer a medição real e ver que os cálculos não batem. O bom disso tudo é exatamente a busca de uma explicação. Com isso, as crianças crescem, amadurecem e serão melhores profissionais lá na frente.
AF: O uso das tecnologias já vem sendo aplicado no Amazonas?
Sim. Em algumas escolas particulares, mas, principalmente, nos Centros de Educação de Tempo Integral (Ceti). Um desses Ceti´s que merece destaque é o Ceti Sérgio Pessoa, que fica no bairro Cidade de Deus, que hospeda os projetos Pró-Engenharias e RH-TI e que conta com diversos laboratórios (matemática, física, química, informática e robótica), com equipamentos úteis para alinhar a teoria com a prática.
No Ceti Sérgio Pessoa, os projetos Pró-Engenharias e RH-TI já iniciaram o ensino de raciocínio lógico e Scratch (composto por blocos de comandos visuais e encaixáveis, estilo brinquedo de montar da Lego). Por sua facilidade de uso, o Scratch é indicado para crianças a partir de 8 anos de idade. Contudo, sabemos que muitos adultos já o utilizam em suas atividades. Os resultados são animadores. Percebe-se a motivação dos alunos na realização das atividades, que usualmente envolve a construção de algum jogo. As próximas atividades incluirão robótica educacional, que acreditamos ser outra grande força motivacional.
AF: Quais são os benefícios do ensino por meio da linguagem de programação?
O principal benefício do ensino de linguagem de programação é aprimorar o raciocínio lógico das crianças, fator fundamental não somente para o ensino de computação e matemática, mas que pode ser aplicado no desenvolvimento de habilidades de liderança, gestão estratégica, análise de processos, inovações gerenciais e até mesmo o empreendedorismo.
Alguns pesquisadores, incluo-me nesse rol, dizem que todas as crianças aprendem a escrever porque é uma habilidade útil em todos os aspectos da vida. A programação funciona da mesma forma, pois promove uma mudança na mente das crianças, que aprender a pensar corretamente (ou logicamente).
Outro aspecto importante é que, na maioria do tempo, as crianças usam a tecnologia somente para navegar, conversar e jogar. Mas não estão projetando, criando e se expressando por meio delas. Por que só brincar com jogos eletrônicos se você pode criar seus próprios jogos? Isso só é possível com a programação de computadores.
AF: Em sua avaliação, qual a influência da tecnologia na Educação?
A tecnologia na Educação não pode mais ser considerada uma inovação, simplesmente porque ela é um fato. Ela traz muitas influências positivas, por exemplo, a interdisciplinaridade, o estímulo à participação cooperativa, a promoção da autonomia e a responsabilidade dos alunos; possibilita que o aluno possa criar, pensar, manipular a informação e que leve à construção do conhecimento pelo próprio aluno, ser criativo, enfim, a tecnologia pode ser vista como uma grande caixa de ferramentas, de onde podem sair uma série de novos recursos a serem explorados tanto pelo aluno quanto pelo professor.
Usualmente a influência é positiva, mas também pode ser negativa se não tomarmos certos cuidados. Por exemplo, não é por estar usando o aparelho ou software mais moderno que se está ensinando melhor. No caso, a diferença não está no aparato tecnológico, mas sim na metodologia que o professor está adotando.
Além do mais, é importante entender que o computador e o software educacional, seja ele qual for, é uma ferramenta auxiliar do processo de aprendizagem do aluno. Ou seja, uma aula ruim é ruim com ou sem tecnologia.
É extremamente necessário que se estimule as crianças a pensar sobre cada informação obtida, via Internet, por exemplo, e não somente absorvam sem critérios, de tal forma que elas não se tornem parte de uma geração superficial. Ou seja, a informação está abundante, mas o conhecimento não. A informação tem que ser bem trabalhada para ser útil.
Outro cuidado é que tem se que saber muito bem, do ponto de vista pedagógico, em que aspectos a tecnologia/programação pode ajudar na formação dos alunos. Ou seja, a tecnologia não deve ser usada sem um claro propósito metodológico.
Camila Carvalho – Agência FAPEAM