Programa de aceleração de startups do MDIC alavanca R$ 40 mi no mercado, diz secretário
O programa de aceleração de startups do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) – o Inovativa Brasil – conseguiu alavancar oito vezes, praticamente, os investimentos realizados no programa desde 2014, início de sua operação.
O programa de aceleração de startups do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) – o Inovativa Brasil – conseguiu alavancar oito vezes, praticamente, os investimentos realizados no programa desde 2014, início de sua operação. A afirmativa é do secretário de inovação do ministério, Marcos Vinícius de Souza, em entrevista ao Jornal da Ciência.
De acordo com ele, o Ministério investiu R$ 5,5 milhões no programa até agora, frente aos R$ 40 milhões alavancados no mercado pelas startups aceleradas pelo Inovativa Brasil.
Para Souza, a captação de recursos por essas startups pode ter sido até maior, já que os dados foram passados somente por 43% das empresas de base tecnológica recém-criadas que responderam às perguntas solicitadas pelo MDIC. “Provavelmente, esse numero é maior porque quase 60% não responderam”, disse ele, afirmando que o objetivo do programa gratuito é dar “um banho de negócios” nas startups selecionadas.
O programa de aceleração do MDIC conta com as parcerias do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (CERTI).
Souza analisou o primeiro triênio do programa e citou o resultado de uma pesquisa do Sebrae. Segundo ele, o estudo mostra, por exemplo, que a média do quadro de funcionário das startups aceleradas pelo Inovativa Brasil subiu de 2.9 para 5.1, depois de um ano de treinamento.
“Quando comparamos os dados, vemos que o aumento do número de funcionários de startups que participam do Inovativa cresce 75% em relação ao quadro de funcionários daquelas que não participam”, disse.
Diversificação da pauta exportadora
Outro impacto positivo, segundo disse, é nas exportações de produtos com maior valor agregado. Conforme Souza, cerca de 12% das startups de base tecnológica já exportam, desempenho que, segundo disse, varia de acordo com o número de funcionários. “Das que têm mais de cinco funcionários, 25% exportam”, explicou.
A maioria das exportações é de softwares e produtos da área da tecnologia da informação e comunicação (TIC) dos setores de serviços, saúde, comércio e agronegócio, acrescentou o secretário do MDIC.
Para Souza, o avanço das startups é um dos caminhos que o Brasil pode trilhar para aumentar mais as exportações de produtos com maior valor agregado. “Essa é uma das saídas. Não é a salvação, porque ainda são empresas nascentes que estão começando. Mas olhamos as startups com grande potencial de crescimento rápido”, analisou.
Procura
Souza informou que a procura pelo programa de aceleração do MDIC bateu um recorde no primeiro ciclo de 2017. Na primeira edição deste ano, as inscrições cresceram 30,6% para 1.793 startups, ante 1.372 na primeira edição do programa de 2016. Na mesma etapa de 2015, as inscrições haviam somado 729 unidades.
Do total do número inscrito no primeiro ciclo deste ano, 300 startups serão selecionadas pelo Ministério para receber a capacitação. O MDIC prevê divulgar as empresas selecionadas em 20 de março e a perspectiva é de que seja lançado outro edital no segundo semestre.
Mercado global
A orientação do programa de aceleração de empresas nascentes do MDIC, disse Souza, é que as startups nasçam globais. Ou seja, voltadas tanto para o mercado interno como o internacional.
“Já fizemos missões para o Vale do Silício, o Reino Unido e este ano faremos para a França. A ideia é levar um grupo bem selecionado, preparado para organizar negócios no exterior e atrair ‘investidores anjos’ de outros países, para o desenvolvimento de produtos em conjunto”, disse.
Aperfeiçoamento e integração do sistema
O vice-presidente da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), José Alberto Sampaio Aranha, destacou a importância do programa de aceleração de startups do MDIC e defendeu o aperfeiçoamento dessa iniciativa. Defendeu, por exemplo, o refinamento nos critérios de seleção dos mentores e coachings.
“Acho que é preciso fazer uma avaliação e acompanhamento dos mentores. Ou seja, verificar quais mentores estão ajudando de fato, e os que somente dizem que querem ser mentores e não ajudam muito. Isso é algo muito importante”, considerou.
Aranha defendeu ainda a integração do programa com órgãos da pasta da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), para ser criada uma ampla plataforma de inovação integrada e acelerar a diversificação da pauta exportadora brasileira, hoje baseada, sobretudo, em commodities agrícolas e minério de ferro.
“No momento em que se juntar o MDIC com o MCTIC vamos ter uma grande chance disso. Porque um trabalha uma parte do processo, e o outro trabalha a outra”, disse.
Conforme observa Aranha, o MCTIC, por exemplo, poderia atuar no programa com as tecnologias, com o cérebro das universidades e com os institutos de pesquisa.
Programa Nacional Conexão Startup Indústria
O dirigente da Anprotec analisou ainda o Programa Nacional Conexão Startup Indústria, lançado em dezembro último pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), instituição vinculada ao MDIC. Para ele, o ideal seria que esse programa também fosse integrado com o Inovativa Brasil.
Aranha avalia que o programa da ABDI “é interessante” porque ocupa espaços ainda vazios no mercado. “Hoje um dos grandes problemas das empresas é fazer, por exemplo, o teste mínimo dos produtos em fase de desenvolvimento. Ou seja, como se pode gastar o mínimo possível para testar um produto, que é o início da prototipagem do produto”, disse. “E esse programa de Startup Indústria faz exatamente isso”.
Aranha avalia que as empresas não conseguem ultrapassar a fase inicial de prototipagem do produto, porque os passos seguintes são mais difíceis. Os produtos precisam ser testados em unidades maiores de produção.
Aranha comparou o processo de inovação a um grande quebra-cabeça e disse que o Brasil está começando a pensar em inovação. “Só em 2015 tivemos a palavra inovação na nossa Constituição, pela Emenda Constitucional nº 83. Vemos que isso é muito novo, ainda estamos aprendendo”, disse.
O dirigente da Anprotec acrescentou que o Brasil vai bem na formação de doutores, na publicação de artigos científicos e na pesquisa. “Mas isso não é inovação, para termos inovação é preciso pegar esse conhecimento e transformá-lo em produto ou serviços que sejam consumidos pelas pessoas.”
A gerente de inovação da ABDI, Elisa Carlos Pereira, analisou sobre como o Programa Nacional Conexão Startup Indústria poderia estreitar os laços entre a universidade e empresa, e disse entender que as incubadoras e os parques tecnológicos podem ajudar nesse processo. “Agradecemos também as sugestões de como poderíamos melhorar essa relação”, disse ela.
Fonte: Viviane Monteiro – Jornal da Ciência