Opinião ACATE: Tecnologia para a cidade não parar
Não dá para ficar alheio às paralisações das últimas semanas. Eu acredito que existe uma legitimidade nessas manifestações, e sendo representante do setor de tecnologia e inserido num ecossistema de inovação, sei que preciso defender algumas bandeiras para mudar o nosso país. Como qualquer área, nós precisamos ter segurança jurídica, carecemos de um ambiente estável para podermos nos desenvolver. Por isso, estamos juntos com quem quer que o Brasil melhore e vá para frente.
Quanto aos impactos das paralisações, eles poderiam ser minimizados se houvesse investimento em tecnologias, meios alternativos de transporte e energia limpa. Como pode o bloqueio de rodovias e a falta de combustíveis fósseis afetar tanto a produção de um país? Para o transporte de cargas, fica evidente a necessidade de outros meios de transporte, como o ferroviário — que hoje transporta basicamente minério e grãos. E dentro das cidades, motoristas de carros movidos a GNV ou eletricidade não enfrentariam tantas dificuldades, além de serem meios mais limpos e baratos.
Painéis solares seriam uma ótima solução para aqueles que estão sem água quente nos chuveiros por eles serem a gás — este ainda é o tipo de aquecimento que mais gasta água, segundo o Centro Internacional de Referência em Reúso de Água (Cirra), vinculado à USP. O chuveiro híbrido, misto de elétrico e solar, é a opção mais econômica e ecológica.
A economia compartilhada, que ganha força principalmente devido à tecnologia, também é uma aliada da população nessas horas. Muitos que estavam sem combustível ou foram impactados pelos horários reduzidos e greve de ônibus recorreram a aplicativos de carona, como o Uber e o 99.
Em muitas empresas, graças aos aparatos tecnológicos, foi possível liberar os colaboradores para fazer home office — ou seja, deixá-los trabalhar de casa. Hoje existem ferramentas para bater o ponto em qualquer lugar e a computação em nuvem permite que tudo o que o funcionário precisa acessar esteja disponível em qualquer computador ao entrar no sistema adotado pela empresa.
Este é o momento ideal para refletirmos sobre nossos hábitos, ainda é sustentável mantê-los? O mesmo serve para os governos, que precisam achar alternativas para as cidades sobreviverem com a paralisação de uma classe, enquanto buscam seus acordos e resoluções. Por isso, acredito que essas manifestações têm muito a nos ensinar, mesmo que, por outro lado, existam pessoas infiltradas acrescentando pautas que não têm a ver, aproveitando-se do momento e confundindo a população. Se conseguirmos tirar nossas próprias lições e fazer a nossa parte daqui pra frente, já será um grande avanço.
*Artigo assinado por Daniel Leipnitz, presidente da Associação Catarinense de Tecnologia, e publicado originalmente no Diário Catarinense em 06/06/2018.