ACATE e associada falam sobre exportação ao Valor Econômico
Matéria do caderno de pequenas e médias empresas do jornal Valor Econômico abordou as dificuldades para a exportação das empresas brasileiras de tecnologia. ACATE e a associada AUDACES foram ouvidas, representando o setor catarinense.
Confirma a matéria:
Comércio exterior: Setor defende linhas de crédito específicas para micro e pequenas
Escassez de incentivos emperra as vendas externas de software
Matéria do caderno de pequenas e médias empresas do jornal Valor Econômico abordou as dificuldades para a exportação das empresas brasileiras de tecnologia. ACATE e a associada AUDACES foram ouvidas, representando o setor catarinense.
Confirma a matéria:
Comércio exterior: Setor defende linhas de crédito específicas para micro e pequenas
Escassez de incentivos emperra as vendas externas de software
As exportações brasileiras de licenças de software cresceram significativamente em 2008. Só um grupo de 150 empresas, que atuam no Projeto Setorial Integrado para Exportação de Software e Serviços Brasileiros (PSI SW), desenvolvido pela Apex Brasil, entidade ligada ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), em parceria com a Softex, faturou US$ 82 milhões, 50% a mais que em 2007. As previsões são de que a receita se eleve para US$ 120 milhões em 2009. Mas a participação das micro e pequenas empresas no volume exportado ainda é reduzida por falta de um apoio formal, com recursos financeiros, diretamente vinculado aos programas de exportação dos fornecedores de software, reclamam empresários do setor.
“É muito caro exportar. Há dificuldades de vários tipos, como falta de recursos para localização dos produtos no exterior, pesquisas caríssimas de mercado, apoio físico em outros países, o que torna mais atrativo, ainda, o mercado nacional. Mas o problema maior é que não há qualquer tipo de incentivo para exportação para as pequenas companhias”, diz Rui Luis Gonçalves, presidente da Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (Acate). A Acate desenvolve ações para organizar o software desenvolvido em Santa Catarina num arranjo produtivo que conta com 250 empresas, a maioria de pequeno porte.
“Além de maior capacitação da mão de obra, conhecimento especializado em língua inglesa, o governo deveria oferecer mais incentivos para que o preço de desenvolvimento do software brasileiro fosse mais competitivo com Índia, China e Rússia”, concorda José Curcelli, presidente da Associação Brasileiras das Empresas de Software (Abes). Entre as reivindicações para melhorar a participação das micros e pequenas empresas, a entidade defende a criação de linhas de créditos específicas, objetivando capital de giro ou financiamentos para exportação, administrados diretamente pelas empresas. “A situação começa a mudar um pouco, agora, com as iniciativas do BNDES para ajudar pequenas e médias empresas”, diz Curcelli.
Uma das linhas de financiamento do bancos para pequenas empresas da área de software (com receita bruta anual de até R$ 60 milhões) é o Cartão BNDES, que prevê a concessão de crédito de até R$ 500 mil por banco emissor (Bradesco, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, a taxa de juros de 1% ao mês e pagamento em até 48 vezes.
Atualmente, 2,4 mil empresas de desenvolvimento de software e serviços de informática possuem o Cartão BNDES, com limite pré-aprovado para transações de R$ 77,2 milhões. Mas essa linha de crédito não está vinculada, ainda, diretamente às exportações. A partir de junho, em atendimento às reivindicações do Fórum Nacional de Competitividade em Serviços de TI e Software, criado no âmbito do MDIC, com a participação de várias entidades representativas da indústria brasileira de software, o banco deverá financiar para as MPEs do setor a contratação dos serviços de avaliação da qualidade de processos e produtos de software para aumentar as exportações.
Outra forma de apoio do BNDES na área de software é o Prosoft -Programa para o Desenvolvimento da Indústria de Software e Serviços de Tecnologia da Informação, que financia empresas exportadoras, sediadas no Brasil. Mas, igualmente, não atende diretamente às micros e pequenas empresas desenvolvedores de software nacionais. Por uma razão muito simples: o valor mínimo para financiamento direto é de US$ 200 mil, e somente poderá ser pleiteado por empresas que, cumulativamente, estejam constituídas e em operação há mais de cinco anos.
Ou seja, para pedir um financiamento para exportar, a empresa precisa comprovar, previamente, que já exportou mais de US$ 200 mil em software e serviços nos 24 meses anteriores à consulta ao banco. “Desse jeito, nenhuma pequena empresa vai crescer. Qual é a micro ou pequena empresa que tem condições de pegar dinheiro do Prosoft diante de tamanha exigência?”, reclama Mervyn Lowe, presidente da P3D, desenvolvedora de software para a área de educação, em Santa Catarina.
A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, admite que realmente não tem uma linha isolada de crédito especificamente para exportação. Mas informa que, indiretamente, esse apoio existe. “Pesquisas mostram que as empresas que mais exportam são as inovadoras. A Finep apoia as empresas inovadoras com crédito e financiamento, por isso, a probabilidade de estarmos apoiando as pequenas companhias exportadoras é muito grande”, explica Gina Paladino, superintendente da área de pequenas empresas inovadoras da agência de fomento.
Na carteira de Juros Zero, um programa da Finep para MPEs, por exemplo, pelo menos 60% dos financiamentos foram para beneficiar companhias inovadoras da área de TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação). “Trata-se de programa experimental, com 62 contratos assinados, que fornece crédito de R$ 35 milhões para empresas de pequeno porte que faturam menos de R$ 10,5 milhões por ano. Embora não tenhamos um programa específico para exportação, acabamos dando apoio em decorrência natural dos nossos programas para inovação”, diz Gina.
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Dinheiro sai para quem já exporta muito
Criada em 2004, dentro da incubadora da Cietec, da Universidade de São Paulo, a P3D, desenvolvedora de soluções educacionais em realidade virtual 3D, cumpriu uma rápida trajetória de sucesso. Em 2008, já graduada, com pouco mais de 20 colaboradores, a empresa faturou R$ 3 milhões com a venda de software no mercado interno. As exportações, para mais de 20 países, somaram US$ 150 mil. “Todo esse esforço foi feito com capital próprio, não conseguimos nenhum financiamento governamental para apoiar as exportações”, conta Mervyn Lowe, presidente da P3D.
Ele assinala que nos três últimos anos já desembolsou perto de R$ 1 milhão para dar impulso às vendas externas. “Para exportar, contamos com apoio da Apex Brasil, através da Softex, para a contratação de stands e consultores no exterior. Não tivemos nenhum crédito do governo. O Prosoft é um programa fantástico, mas a empresa para se beneficiar do financiamento precisa vender pelo menos US$ 200 mil no exterior. Nós estamos há três anos vendendo software para países como EUA, Espanha, Portugal, Índia e Finlândia, ganhamos três prêmios internacionais e não conseguimos crédito do Prosoft porque na vendemos pelo menos US$ 200 mil até agora.”
Além da falta de financiamento, as empresas desenvolvedores de software reclamam também da falta de apoio logístico das próprias embaixadas brasileiras no exterior. “Já recebi telefones de embaixadas estrangeiras, que buscam fazer contato para que representemos produtos de empresas de outros países. No entanto, nunca conseguimos ajuda das embaixadas para promoção dos nossos produtos”, diz Cláudio Grando, diretor da Audaces, que desenvolve softwares gráficos destinados à produção da indústria de confecções.
A empresa também nasceu numa incubadora, a Celta, em Florianópolis, em 2005. Hoje, conta com 150 colaboradores, na sede, e em mais uma unidade, em Curitiba, e um elenco de 3 mil clientes. Suas primeiras vendas para o exterior começaram em 2003 e atualmente a empresa exporta para 30 países da América Latina, Portugal, Espanha, Itália, Egito e China. Grando não revela o valor do faturamento e indica que as exportações representam de 15 a 20% da receita. “É um negócio que exige muito investimento, e trabalho de longo prazo. Mas todos os esforços até agora foram feito com nossos próprios recursos. O acesso às linhas de financiamento das agências governamentais ainda e muito difícil”, afirma ele.
Genilson Cezar, para o Valor, de São Paulo, 28/05/2009