Aproximar pesquisa e indústria é vital para estimular inovação
O dimensionamento do grau de inovação tecnológica na economia brasileira começou a ser feito, no final dos anos 90, com a Pintec (pesquisa de inovação tecnológica), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. No levantamento, o conceito é claramente restrito a transformações substanciais nos produtos, serviços e processos produtivos decorrentes da incorporação de novas tecnologias. De forma geral, essas mudanças podem ter duas fontes: a aquisição de bens de capital (máquinas, software de gestão etc.) que tragam melhorias intrínsecas; ou investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), cujos resultados normalmente são mais diferenciados.
Com base no diretório de grupos de pesquisa do CNPq, Márcia Siqueira Rapini, pesquisadora do Grupo de Economia da Ciência e da Tecnologia do Cedeplar/UFMG e Instituto Euvaldo Lodi/FIEM, apurou que, até 2004, menos de 10% dos centros de P&D mantinham relacionamento com o setor produtivo. Do lado das empresas, a professora observa que o Pintec aponta a cadeia de valor (fornecedores e clientes) como principal fonte de informação e soluções tecnológicas. “Isso é natural em todo o mundo, mas no Brasil as empresas recorrem menos às universidades. Nessas instituições, há conhecimento acumulado que resolveria muitos gargalos de produtividade e competitividade das indústrias”, diz.
“Nos setores em que o Brasil é mais competitivo, a vantagem não se fundamenta em incentivos, ou mão-de-obra barata. Somos competitivos em soja não pela disponibilidade de terra, mas pela proximidade dos produtores com a Embrapa. Mais importante do que a manufatura, ou mesmo o controle acionário local, é a engenharia ser feita no Brasil. É isso que dá autonomia”, argumenta Edson Fregni, professor da Politécnica da USP.
Conhecimento e riqueza
Com a globalização e o reequilíbrio da divisão internacional do trabalho e riqueza, a Inovação Tecnológica consolidou-se como prioridade ao desenvolvimento industrial. “É como Qualidade nos anos 80 e 90”, compara Carlos Cavalcante, superintendente do Instituto Euvaldo Lodi (IEL).
A Lei de Inovação Tecnológica (10.972, de dezembro de 2004), regulamentada pelo Decreto 5.563 (outubro de 95) normatiza o relacionamento entre empresas e institutos de ciência e tecnologia (ICTs), além de criar mecanismos de crédito e financiamento. “Com a Lei, ficaram mais claros as interfaces entre empresas privadas e centros de P&D, com normas de financiamento e contrapartidas. Isso cria um mercado e um ambiente de colaboração tecnológica”, explica Cavalcante. Ele reconhece que ainda há dificuldades nas negociações entre empresários e acadêmicos, o que às vezes chega a inviabilizar a execução de projetos com os recursos já liberados. “A prática vai levar ao equilíbrio”, avalia. “Até a promulgação da Lei da Inovação, alguns pontos sequer eram discutidos. Entre outras coisas, a Lei regulamenta o deslocamento de professores e pesquisadores para as empresas, o que antes era impedido pelos contratos de dedicação exclusiva”, exemplifica.
“Hoje, há um mercado de tecnologia, com vários modelos de investimento e contratos com os ICTs, com base em royalties ou licenciamento”, afirma Wohlers, do Ipea. “Algumas universidades estão mais maduras nos modelos de negócio e muitas empresas nacionais de base tecnológica surgem nessas instituições. Contudo, a articulação (entre ICTs e empresas) ainda está muito aquém do necessário. O sincronismo de objetivos entre academia e setor produtivo é um desafio para ambas as partes”, admite.
“Para as empresas cuja estratégia depende da diferenciação por meio de tecnologia, há uma boa disponibilidade de grupos de pesquisadores focados no mercado e nas condições econômicas locais”, avalia Jaci Leite, professor da FGV/Eaesp. Ele esclarece que muitos projetos não resultam necessariamente em soluções tecnológicas inéditas, mas em adaptações às necessidades do mercado local. É o caso típico de segmentos mundialmente oligopolizados – como ocorre, por exemplo, com fármacos, eletrônica ou software – que tornam suas tecnologias economicamente inacessíveis.
“Inovação é o enlace entre invenção e visão do valor desta invenção”, define Jean Paul Jacob, professor da Universidade da Califórnia e pesquisador da IBM. “As mais de 3 mil patentes da IBM, por si só, não significam que a empresa seja inovadora. Por isso, decidimos abrir esse conhecimento. Inovação depende de colaboração”, exemplifica.
Gazeta Mercantil