Capacitação de mão-de-obra pode alavancar índice de uso das TICs
Os resultados comparam os dados para analisar a evolução de cada nação. Além de perder posições, o Brasil teve ganhos relativamente pequenos, totalizando apenas 0,93 pontos em cinco anos. O tímido crescimento deve-se tanto ao uso quanto ao acesso à tecnologia. O estudo ressalta ainda a taxa de penetração de telefonia celular de 63%. Entre as maiores economias da América Latina, a Argentina e o Chile são as nações com melhor desempenho, respectivamente no 47º e 48º lugar do ranking.
Os Estados Unidos caíram seis lugares, ocupando a 17ª posição do estudo em 2007. Apesar de apresentar evolução nos índices de uso e acesso, os país ainda não atingiu o nível de penetração de tecnologias da informação e de comunicação de países europeus. O Canadá também perdeu 10 posições e passa a ocupar o 19º lugar no ranking mais recente. Os países que ocupam os 10 primeiros lugares da lista da UIT são Suécia, Luxemburgo, Hong Kong, Islândia, Holanda, Suíça, Alemanha, Dinamarca, Macau e Reino Unido.
Em entrevista exclusiva à TIC Brasil Mercado, Márcio Luis Miorelli, presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação, Software e Internet do Rio Grande do Sul (Assespro-RS), falou sobre o relatório. Para ele, a educação e a inclusão digital são fundamentais para o país alcançar melhores índices no uso das TICs. Disse ainda ser necessário fortalecer a geração de negócios com atração de investimentos, intensificar a capacitação de mão-de-obra.
TIC – Entre 154 países, o Brasil aparece em 60° lugar no ranking do ICT Development Index em relação ao uso das TICs. O que esse número diz do país?
Márcio Luis Miorelli – Estes indicadores referem-se ao uso de Tecnologia de Informação e Comunicação pela população e, obviamente, a questão da educação é fundamental neste item, em que o estímulo, incentivo e utilização de conhecimento através da internet deve ser cada vez mais incentivado nas escolas públicas e privadas do Brasil. Além disso, a inclusão digital é outro ponto a ser observado, pois grande parte da população não tem acesso às tecnologias de informação e comunicação. Ao ocupar o 60º lugar no ranking, o País mostra que a escassez de mão-de-obra especializada e a falta de incentivos fiscais são ainda os desafios principais para o setor de Tecnologia da Informação (TI). É necessário preparar estratégias para fomentar e fortalecer o desenvolvimento das empresas de software, e a partir daí alavancar o setor. Sem isso, o Brasil continuará regredindo e perdendo espaço para países vizinhos, como a Argentina e o Chile, que obtiveram melhor desempenho.
TIC – O estudo compara dados de 2002 a 2007 para analisar a evolução de cada nação. Em 2002, por exemplo, o Brasil estava seis posições a frente da que se encontra hoje. O que explica essa queda?
Márcio Luis Miorelli – Esta queda se deve à evolução mais rápida de outros países em relação ao Brasil, e a falta de políticas governamentais que estimulem o acesso às TICs pelas classes menos abastadas. A queda pode ser explicada pela falta de incentivos e de leis específicas para o setor de TI, em especial para as pequenas empresas, responsáveis por 80 dos 70 mil empreendimentos de TI existentes no Brasil. É preciso reconhecer a evolução, ainda que modesta de recursos, mas não suficiente para alavancar o segmento. Não há como avançar sem investir em qualificação, sem preparar os colaboradores.
TIC – Embora tenha perdido posições, o Brasil teve ganhos relativamente pequenos, totalizando 0,93 pontos em cinco anos. O que o país precisa fazer para atingir um crescimento mais significativo nos próximos anos?
Márcio Luis Miorelli – Para alcançarmos o crescimento é necessário fortalecer a geração de negócios com atração de investimentos, intensificar a formação e sistematização de projetos de capacitação de mão-de-obra a nível estadual e municipal, bem como a criação de projetos de lei para implementar o Arranjo Produtivo Local – APL de serviços, com a possibilidade de terceirização da atividade fim. No Rio Grande do Sul, a Assespro tem obtido sucesso na implantação de projetos de responsabilidade social e iniciativas de fomento do setor de Tecnologia da Informação (TI). Na área de responsabilidade social, o Programa de Capacitação de Capital Humano, resultado do convênio com o Governo do Estado e demais entidades de TI, preparou jovens da rede estadual de ensino e escolas técnicas ao mercado de trabalho no segmento da tecnologia. Firmada em 2006, a parceria supre a falta de mão-de-obra qualificada no Estado. É o primeiro programa no País a se utilizar de escolas públicas para capacitação dos alunos de acordo com a exigência do mercado de trabalho, bem como qualificação do corpo docente do ensino público estadual. Em 2008, foram 150 alunos qualificados, sendo que cerca de 40% já foram aproveitados no mercado de trabalho por meio de estágios ou até mesmo contratação efetiva. A Assespro-RS também ofereceu, como forma de incentivo, subsídio a 38 empresas de TI do Estado, por intermédio do Programa de Estímulo ao uso de Tecnologias da Informação Micros e Pequenas Empresas (Proimpe).