Com novas tecnologias, fintechs podem avançar no Open Finance
O Open Finance tem tudo para ser um dos movimentos mais disruptivos do mercado financeiro nos próximos anos. Entretanto, fintechs, bancos tradicionais e demais instituições ainda precisam concretizar os benefícios do sistema aos clientes para avançar, segundo as opiniões de especialistas durante o Fintech Trends, evento promovido pela Associação Catarinense de Empresas de Tecnologia (ACATE) na última semana, em Florianópolis (SC).
Implementado no Brasil em 2021, o sistema comemorou o seu segundo aniversário em fevereiro. No total, até aquela data, foram 15 milhões de clientes únicos e 22 milhões de consentimentos ativos, além de 800 instituições participantes, como bancos, fintechs e cooperativas de crédito, entre presenças obrigatórias e facultativas.
Na visão de especialistas e executivos do mercado, a população ainda precisa perceber os benefícios de conceder a autorização para o compartilhamento de suas informações, assim como o Pix eliminou as taxas e deu velocidade às transações financeiras corriqueiras, por exemplo. Isso porque o Open Finance, ao contrário do sistema de pagamento instantâneo, não é uma solução em si, mas sim uma infraestrutura por onde navegam os dados, com o consentimento dos usuários.
Para Paulo Valadares, CEO e cofundador da Akropoli, fintech que desenvolve soluções de Open Finance, a proposta contribui para quebrar a assimetria nas informações, o que antes estava na mão dos maiores bancos do país. Mas essa tarefa não é algo simples.
“O mercado vem refinando isso [o compartilhamento dos dados] e a simples troca de informação vem dando trabalho. Os casos de uso, quando eles vierem à tona, vão mudar o mercado. A experiência deve empoderar muito mais o dono das finanças”, disse Paulo, que participou do debate mediado por Danylo Martins, fundador e publisher do Finsiders.
Iniciação de pagamentos
Neste sentido, a iniciação de pagamentos — que integra a fase 3 do Open Finance — é vista com grande potencial para obter resultados práticos. Para Ludmila Volochen, diretora regional da FDATA, uma entidade sem fins lucrativos focada em apoiar empresas a atuar no Open Banking e Open Finance, esta etapa é quando o consumidor vai perceber os benefícios.
“A iniciação de pagamento é, provavelmente, a virada de chave para o Open Banking deixar de ser apenas uma plataforma, para alguma coisa que vai estar no dia a dia das pessoas”, afirmou Ludmila.
Em uma situação hipotética, o CEO da Akropoli explica que um cliente que possui três contas em diferentes instituições poderá, a partir do modelo, autorizar que um dos seus bancos faça uma autogestão das contas-correntes. Dessa forma, se uma das contas fechar com o saldo negativo ao final do dia, uma transferência conseguiria facilmente corrigir o problema. “Quando elas (empresas) começam a trabalhar de forma complementar, existe a criação de valor para o usuário”, disse Paulo.
Para Christian Eloysio, analista de produtos sênior na Raidiam, uma empresa de compartilhamento de dados, existem oportunidades de se criar uma jornada de pagamento sem fricção para os usuários com a certificação CIBA (Client Initiated Backchannel Authentication ou Autenticação de Backchannel Iniciada pelo Cliente).
Ele diz que uma pessoa pode autorizar, por exemplo, que o McDonald’s desconte R$ 100 da sua conta todo mês. Na hora da compra da refeição, basta entrar no estabelecimento, solicitar um lanche e ter o valor automaticamente debitado — uma proposta bem semelhante à da Amazon Go, em que os clientes fazem as compras nas lojas sem usar os caixas físicos da varejista norte-americana.
“Fazendo isso de forma segura, clara e transparente para o cliente, é um caso de uso de iniciação de pagamento que pode ser proporcionado pelo Open Finance”, afirmou Christian.
Inteligência artificial
Outro ponto debatido no evento da ACATE foi a aplicação de inteligência artificial (IA) no modelo de dados abertos. Seja em uma compra ou na hora de investir, o entendimento é que a IA tem poder para contribuir com uma tomada de decisão mais assertiva.
“Sem precisar estudar tanto, as pessoas vão poder tomar decisões melhores sobre as suas finanças com o apoio de algum modelo analítico, como uma educação financeira automatizada e robotizada”, afirmou Paulo, da Akropoli.
De acordo com Christian, da Raidiam, o Open Finance pode ajudar a consultar, em um único ambiente, as tarifas de seguros de carros de diferentes empresas e compará-las, gerando uma economia para o consumidor. “A pessoa vai em um lugar e ele [sistema] já faz isso de forma automatizada”, exemplificou o especialista.
Nos últimos anos, as duplicatas eletrônicas ajudaram a revitalizar um meio de pagamento criado em 1968. Segundo Fernando Fontes, CEO da registradora Cerc, o desafio das fintechs é olhar para as pessoas jurídicas, sobretudo para os microempreendedores.
Neste sentido, as duplicatas eletrônicas podem funcionar como uma espécie de hub financeiro que conecta quem emitiu, comprou e fez a transação.
“Essa nova versão de duplicata eletrônica vai permitir que as empresas voltem a ter um ativo que as legitime para acessar capital de giro em condições mais favoráveis, que é o mais abundante da economia brasileira”, disse Fernando. A estimativa do setor é que as duplicatas movimentem cerca de R$ 11 trilhões por ano.
Segundo Edson Silva, presidente do Grupo Nexxees, com a emissão de boletos em duplicidade, o risco e os custos das operações são maiores — algo que as duplicatas eletrônicas podem solucionar.
“O mercado está acostumado a falar em antecipação, mas ainda precisa pensar em como usar isso na oferta de crédito. No varejo, utiliza-se para honrar um compromisso, mas nunca usou isso para tomar um crédito”, afirmou.
Fonte: Finsiders, texto por Fernando Barbosa
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