Como o empreendedorismo transformou Florianópolis na melhor cidade do Brasil para a criação de empresas
A edição 1078 desta quinzena da Revista Exame traz, como reportagem de capa, as “melhores cidades para empreender”. Para surpresa de alguns, nesta reportagem, Florianópolis aparece como a melhor cidade do Brasil para a criação de empresas, segundo um estudo inédito sobre empreendedorismo, realizado pela ENDEAVOR, uma organização de promoção da cultura empreendedora no mundo.
A edição 1078 desta quinzena da Revista Exame traz, como reportagem de capa, as “melhores cidades para empreender”. Para surpresa de alguns, nesta reportagem, Florianópolis aparece como a melhor cidade do Brasil para a criação de empresas, segundo um estudo inédito sobre empreendedorismo, realizado pela ENDEAVOR, uma organização de promoção da cultura empreendedora no mundo.
De fato, o que a nossa cidade oferece para que ela tenha sido escolhida, dentre as outras capitais, como uma cidade de criação de empresas de alto potencial de crescimento?
Sem dúvida, muitas coisas, mas o que realmente faz a diferença é a nossa cultura empreendedora, que pode ser evidenciada pelos comportamentos e hábitos de nossa juventude universitária, a qual é capaz de aproveitar oportunidades e inventar negócios, tão bem caracterizados pelas empresas startups e spin-offs que têm surgido de nossas universidades.
Há muito o IEA vem promovendo cursos de capacitação em empreendedorismo, sendo, talvez, uma das primeiras instituições a ter implementado um programa desta natureza em nível nacional, na década de 90 do século passado, designado “INP – Iniciando o seu Próprio Negócio”.
Existe uma tendência do mundo dos negócios, até então negligenciada pelas escolas, que passará a ter imenso valor nos próximos anos, é o “empreendedorismo”.
O que é empreendedorismo, afinal? Quem é que pode ser empreendedor?
Há diversas definições para a figura do indivíduo empreendedor, e podemos constatar que muitas das características desta figura nós percebemos em muitas pessoas de nossa cidade que nós conhecemos e, mais particularmente, de nossa empresa.
Schumpeter (1942) , economista austríaco e um dos autores mais reconhecidos mundialmente em empreendedorismo e inovação, salienta que “empreendedor é o grande responsável pelo processo de destruição criativa”. Trata-se de aplicar a ideia de “destruir o velho para se criar o novo”. Este princípio está relacionado às práticas criativas presentes no desenvolvimento de novos produtos, de novos métodos de produção e de mercados.
Na verdade, o empreendedorismo é uma atividade que aparece na vida da maior parte das pessoas em alguma fase da vida.
Paul Reynolds, criador do GEM – Global Entrepreneurship Monitor e estudioso no campo do empreendedorismo, realizou um estudo em 2007 para entender melhor a atividade empreendedora dos americanos, reconhecida como uma das razões que levaram os Estados Unidos a se tornar a maior potência econômica do mundo. Ele constatou que, quando se aposentam, metade dos americanos do gênero masculino já́ teve um período de trabalho por conta própria durante um ano ou mais anos. De fato, o empreendedorismo é considerado uma espécie de revolução.
Em 1990, o movimento empreendedor nasceu no Brasil com a criação do SEBRAE e do SOFTEX. Em 1999, o Governo Federal criou o Programa Brasil Empreendedor, onde foram capacitados mais de 6 mil pessoas até 2002 e o SEBRAE implantou os Programas EMPRETEC e Jovem Empreendedor, para estimular e criar lideranças empreendedoras.
Já em 2000, o Brasil era considerado pelo GEM um País em destaque quanto às suas atividades empreendedoras. Neste ano, a percentagem de empreendedores no Brasil, por exemplo, representava uma média de 16% da população total, tendo sido o País que mais se destacou. Já na Coreia do Sul e nos Estados Unidos, esse valor era de 14% e 13%, respectivamente.
Em 2008, o GEM considerou que, no ano de 2007, o Brasil era o 9o país com a maior parcela da população economicamente ativa (entre 18 e 64 anos) que tinha e/ou participava de empreendimentos. Isto reforça a cultura empreendedora que é marcante na população brasileira (Bonacim, Cunha e Corrêa, 2009) . No mesmo estudo, o GEM identificou as fontes dos recursos segundo os estágios dos empreendedores do País. Vale ressaltar que o índice TEA se refere à Taxa de Atividade Empreendedora (Total Entrepreneurial Activity), que é a taxa que representa o número de empreendedores por 100 habitantes. Diferentemente dos Estados Unidos, o Brasil busca, na maior parte das vezes, recursos externos para seus empreendimentos. Porém, quando buscam recursos, na maior parte das vezes estes advêm dos familiares – de forma similar aos EUA.
O empreendedorismo se mostra, portanto, uma variável de enorme importância para os países, pois acaba por reforçar a economia interna. Existem diversos órgãos e fundações que buscam pesquisar e compreender a atividade empreendedora. Pelo ponto de vista internacional, há outro grupo que se destaca nas pesquisas – o World Bank Group, que realiza pesquisas anuais sobre a atividade empreendedora, especialmente de países emergentes que vêm se destacando. Na edição de 2011, houve um relatório sobre a atividade do Brasil, onde são relatadas as vantagens de se implantar um negócio por aqui. Os relatores do chamado “Enterprise Surveys – Country Note Series” descrevem que as empresas brasileiras são mais integradas ao sistema financeiro do País, se comparadas às empresas de outros países da América Latina – o Brasil possui a maior proporção de empresas que financiam investimentos por meio dos bancos e a maior proporção de empresas com poupanças e contas correntes.
No Brasil, existem diversas organizações que atuam em prol do empreendedorismo com o aval do Governo Federal, por meio de pesquisas, incentivos, divulgação gratuita de dados relevantes sobre o mercado, cursos à distância e presenciais, entre outros. Dentre elas se destacam o SEBRAE, a FINEP, o próprio governo com o Portal do Empreendedor, o Movimento Empreenda e o Instituto Endeavor.
Em Santa Catarina, também, diversas organizações têm atuado em favor do empreendedorismo. Dentre elas se destacam a FAPESC, o SEBRAE, a Fundação CERTI e a ACATE. O Governo do Estado vem implementando algumas iniciativas nessa direção, por intermédio da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável, com os Programas Sinapse da Inovação, Centros de Inovação, Educação TEC, TECNOVA-SC, Startup SC e Geração TEC.
Sem dúvida, é a cultura empreendedora, aliada ao capital humano formado em nossas universidades e ao ecossistema de empreendedorismo inovador, hoje incorporados na cidade, que tornaram Florianópolis a melhor cidade do Brasil para a criação de empresas.
Artigo escrito por Neri Dos Santos, Dr. Ing.
Diretor da Knowtec. Professor Sênior do Departamento de Engenharia do Conhecimento da UFSC. Professor Visitante do Mestrado em Educação e Tecnologias Educacionais da UNINTER. Doutor em Ergonomia da Engenharia – CNAM (Paris/França) e Pós-Doutor em Engenharia Cognitiva – École Polytechnique (Montréal/Canadá).