Falta de mão-de-obra especializada prejudica setor de TI
No período de 2005 até 2008 – até a época pré-crise –, o mercado brasileiro de tecnologia da informação (TI) registrou aumento de 40% no número de vagas de trabalho, puxado principalmente pelo segmento de prestação de serviços.
No período de 2005 até 2008 – até a época pré-crise –, o mercado brasileiro de tecnologia da informação (TI) registrou aumento de 40% no número de vagas de trabalho, puxado principalmente pelo segmento de prestação de serviços. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em apenas três anos, no entanto, o número de vagas de tecnologia não preenchidas saltou de 27 mil para 100 mil, por conta principalmente da incapacidade do país de formar profissionais qualificados na velocidade exigida pelo mercado.
Segundo Francisco Soletl, um dos criadores do Congresso Nacional de Gestão de Pessoas (Conarh), da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), o principal problema que o Brasil enfrenta é a dificuldade das escolas e universidades em acompanhar o desenvolvimento das tecnologias e as necessidades do mercado. Ele explica que, para haja mudanças curriculares, de modo a atender às exigências do setor, os projetos precisam obter aprovação do Ministério da Educação e Cultura (MEC), e isso demora muito.
Soletl afirma que, por causa da demora e da grande burocracia inerente aos processos de mudanças do MEC, as instituições de ensino estão sempre defasadas em relação ao que as empresas necessitam e exigem de seus profissionais. O executivo acha que o governo deve reestruturar seu sistema de renovação curricular, já que o vigente ainda é “da época em que tecnologia era um problema, e não uma necessidade”.
Sergio Sgobbi, diretor da área de capacitação da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), explica que o profissional que o mercado mais sente falta é o da chamada base das empresas, como programadores e analistas de banco de dados. Ele explica que o que acontece com o mercado é que algumas empresas estão se juntando a governos e universidades para criar cursos de especialização de curta duração, portanto que não precisam de aprovação do MEC.
Segundo o especialista, esse tipo de solução emergencial tem causado uma distorção na pirâmide do mercado profissional de TI no Brasil. O normal seria que houvesse muitas pessoas nos cargos de base, prestando serviços, ao contrário do que ocorre hoje, em que há vários profissionais especializados em determinadas linguagens apenas para atender às necessidades específicas de uma empresa. Enquanto não se adequa a grade curricular das universidades a esse tipo de exigência, a companhia empregadora é que tem de adaptar o funcionário à necessidade. Muitas vêm dedicando esforços para reduzir a lacuna entre o perfil do estudante que sai das universidades e o almejado pelas companhias que têm vagas.
A IBM, por exemplo, tem, em parceria com o Centro Paula Souza, responsável pelas escolas técnicas do governo do estado de São Paulo, um curso de formação pós-técnica para operadores de mainframes e linguagem Cobol, realizado nas Faculdades de Tecnologia (Fatecs), para as quais fornece equipamentos, tecnologia e vagas ao término do curso de seis meses. A Blusoft, ONG de empresas de tecnologia de Blumenau, em Santa Catarina, tem o projeto Entra21, para jovens de 16 a 25 anos com ensino médio completo e renda familiar de até quatro salários mínimos para formá-los de acordo com as necessidades das empresas que participam da organização.
Paulo Henriques Chíxaro, responsável por projetos de tecnologia da informação e comunicação do Centro Paula Souza, acredita que a maior dificuldade para que, de fato, se acabe com a falta de profissionais de TI no Brasil é a distância entre as empresas e as universidades. Segundo ele, a iniciativa privada tem dificuldade para suprir as demandas do mercado porque normalmente se interessam apenas em resolver o próprio problema, e isso acabou afastando a formação profissional do mercado. “Nunca houve cobrança dos executivos para uma iniciativa dessas. Isso aconteceu agora com a IBM”, conta.
Profissionais pouco experientes
Outro problema apontado por Soletl é a baixa permanência das pessoas em seus empregos. Ele conta que profissionais recém-formados ficam, em média, apenas um ano e meio em seus empregos e logo vão para outras empresas por causa de oferta um pouco melhor, ou um cargo superior, o que criou uma geração de profissionais muito jovens em altos cargos, mas sem a experiência necessária. Isso, diz Soletl, gerou uma insatisfação em relação a esses profissionais, que, por deixarem seus empregos de forma prematura, acabam não proporcionando o retorno do investimento que foi realizado neles pelas empresas – eles não acumularam experiência suficiente para ocupar um cargo sênior, e, ao deixarem a empresa, têm que se “rebaixar” e passar a ocupar um cargo de remuneração menor.
O diretor de capacitação da Brasscom conta que o plano da entidade é transformar o Brasil em um dos maiores fornecedores de software do mundo, mas não há uma política de médio ou longo prazo. Sergio Tomio, coordenador do Entra21, diz que somente uma ação conjunta dos governos e da iniciativa privada, em que os órgãos públicos reconheçam as reais necessidades das empresas e apóiem suas iniciativas e até invistam nelas, poderá mudar o quadro atual.
Ele defende que o Brasil precisa de um modelo de investimento para o setor e uma estratégia bem estruturada para que o país possa sair da situação em que está. Soletl concorda e ressalta que o mercado de TI brasileiro, se continuar caminhando no passo atual, não resistirá e as empresas vão acabar por fugir daqui.
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