Geadas podem agravar cenário de incêndios florestais
Geadas são um problema constante nas atividades agrícolas. Pastagens, pecuária e grãos são severamente afetados toda vez que as massas de temperatura muito baixas entram em contato com o solo cultivado, queimando folhas, caules, raízes e mesmo a copa de algumas pequenas plantas. Na questão florestal, os impactos dos campos cobertos de branco não poderiam ser menos severos, apesar de já existirem alternativas que mitiguem os danos, como espécies florestais à prova de geada. Para o monitoramento de ameaças florestais, especialidade da Quiron Digital, a gravidade das geadas tem total relação com influência mais danosa de possíveis incêndios florestais.
Mestre em Engenharia Florestal pela FURB, Adam Marques faz parte da equipe de Pesquisa e Desenvolvimento da Quiron, empresa associada ao polo regional da ACATE em Lages (SC). Ele lembra que geadas, que começam a ser comuns nessa época do ano, principalmente na região sul do Brasil, são sempre fenômenos preocupantes. “Se você tiver uma situação de déficit hídrico, esta pode ser agravada por uma geada, proporcionando que qualquer tipo de fagulha possa ocasionar um incêndio de grandes proporções. Corre-se esse risco porque o material já está seco, e uma geada mais severa acaba aumentando o número de plantas secas devido a mortalidade. É sempre mais que um fator que impacta um incêndio florestal”, diz.
Alguns trabalhos mencionam uma chance maior de geadas chamadas tardias (ou seja, aquelas que acontecem na primavera) do que as consideradas precoces (que ocorrem no outono), em espécies florestais plantadas na região sul. Sem dúvida o maior risco é no inverno, quando na geada há congelamento de tecidos vegetais das plantas, mas nem sempre cobrindo-a externamente com a camada branca – é a chamada geada negra, situação em que a planta morre antes que ocorra formação e congelamento do orvalho, dando o aspecto visual predominante branco.
Um impacto muitas vezes não previsto nas ameaças florestais decorrentes da geada são os aumentos de material combustível. “Após dias frios, a grande maioria dessas plantas, que não estão acostumadas com a ocorrência de geada, acabam morrendo ou secando, por conta desse material que teve contato com a geada. Logo, nos dias seguintes há um aumento de material combustível, seco e propício a pegar fogo. Com a geada, a planta fica seca e por isso tem um poder de ignição maior que o de uma planta sadia, que tem umidade natural dentro dela”, frisou Adam.
A Quiron é especializada na predição de incêndios, ameaças e sanidade florestal. Suas soluções incluem predição de risco e cicatriz de incêndios, identificação de desmatamento/furtos, prospecção, identificação e caracterização de novas florestas e monitoramento de colheita.
Florestas jovens são mais ameaçadas por geadas
Algumas espécies têm mais condições de serem severamente afetadas por geadas do que outras. “O Pinus tem uma resistência maior que o Eucalyptus spp. para geada”, frisou Adam, que complementa: “Aqui, na Serra Catarinense, não se planta tanto Eucalyptus spp. como em outras regiões. O Pinus se adaptou melhor ao clima daqui”.
O time de Pesquisa e Desenvolvimento da Quiron conta com a liderança do Professor Associado no Departamento de Engenharia Florestal da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC-CAV), doutor em Ciências Geodésicas, Marcos Schimalski.
Para ele, o contato com geada pode mesmo ser uma ocorrência danosa em algumas circunstâncias. “O que ela pode ocasionar é que, quando há mato e competição por espaço na floresta, as geadas podem matar as plantas daninhas, e aí sim se tornam combustível para a ocorrência de incêndios, que no caso de florestas jovens, até três anos, é um cenário que pode acontecer”, lembra. “O time de pesquisa da Quiron tem know-how em processamento e extração de informações a partir de imagens hiperespectrais, o que possibilita um entendimento mais detalhado de perfil espectral de solos e plantas, ajudando a prever cenários assim”, finaliza.