Gofind: “a pandemia nos levou para o omnichannel”
Há males que vem para o bem. Se o surrado ditado popular for aplicado para o ambiente de negócios, a startup catarinense Gofind, associada à ACATE, tem uma boa história para contar sobre a montanha-russa que foi o ano de 2020.
Os “males”, claro, vieram a partir de março, com a pandemia – que segurou investimentos, causou demissões e o fechamento de muitas empresas. Mas a partir da compreensão do comportamento dos clientes e dos consumidores, a empresa com sede em Joinville viu o jogo virar ao longo do ano e projeta um 2021 de novos negócios, crescimento e a perspectiva de captação de investimento para internacionalizar sua ferramenta – um localizador online de produtos no varejo físico e também no e-commerce – e ampliar o volume de clientes.
“A pandemia nos levou para o omnichannel”, explica Fernando Farias, CEO da Gofind, fundada em 2015 a partir de uma tecnologia que usa inteligência artificial para mapear a disponibilidade de produtos em lojas físicas. O Localizador desenvolvido pela startup, até meados do ano passado, era utilizado geralmente por indústrias de médio e pequeno porte e não englobava a oferta online para o consumidor escolher.
Mas a necessidade de conectar o físico ao virtual em tempos de Covid-19 trouxe um novo horizonte para a empresa. “Se você me perguntasse se nós faríamos isso com nosso produto no início do ano passado, responderia que não”, lembra Fernando.
“Nossa principal mudança foi enxergar um novo cliente: as médias e grandes indústrias, algo que não era nosso foco. Então adaptamos o produto para mostrar aos consumidores também as lojas virtuais – isso nos trouxe empresas de maior porte”, explica o CEO.
Como resultado, a Gofind fechou 2020 com o dobro de receita na comparação com o ano anterior e não precisou demitir nenhum dos 50 colaboradores mesmo no período mais tenso do isolamento social. Para 2021, a expectativa é crescer o faturamento em mais de 130% e fechar o ano com mais de 70 funcionários.
O que ajudou a dar fôlego para a empresa ao longo do ano passado foi uma captação de R$ 1,5 milhão com participação da Invisto e diversos investidores-anjo como Sérgio Cochela, os fundadores do Dafiti Group Malte Huffmann e Philipp Povel, além do conselheiro e agora acionista Marcel Malczewski (fundador da Bematech). A Invisto já havia feito o primeiro grande investimento na Gofind em 2018 (quando ainda se chamava Bzplan FIR Capital), no total de R$ 2 milhões.
A pandemia, contudo, freou um pouco o crescimento previsto para o ano passado. “Esperávamos triplicar os resultados de 2019, mas não foi possível. Ainda conseguimos crescer 100%”, calcula Fernando.
Atualmente, a plataforma da Gofind é utilizada por mais de 700 empresas, que integram seus dados via Google Meu Negócio e dão visibilidade digital a mais de 957 mil lojas físicas e 500 mil produtos em 5 mil cidades do país. Há pouco mais de quatro meses, por meio de parceria com a Intellibrand, o sistema se tornou o primeiro localizador omnichannel de produtos no país – e atraiu grandes indústrias como Heineken, L’Oreal, Bosch, Unilever, Nestlé, entre outras.
EFEITO COVID: DE PEQUENOS E MÉDIOS PARA OS GRANDES CLIENTES
“No começo da pandemia foi difícil, setores que atendíamos como cervejarias artesanais por exemplo fecharam, mas as grandes continuaram. Por isso, nosso perfil de clientes mudou radicalmente”, explica o CEO. “Mais pessoas ficaram em casa, mas continuavam consumindo. No segundo semestre a indústria começou a se soltar e buscar novas soluções de tecnologia, porque eles se surpreenderam com o aumento de vendas de produtos para casa, de limpeza a alimentação e bebidas”.
E alguns destes clientes multinacionais estão levando o localizador da Gofind para testes em outras países – um teste de internacionalização semelhante ao que viveu a Involves, de Florianópolis, há alguns anos. Em função deste cenário de expansão, a startup está começando a buscar um novo round de investimentos, provavelmente em 2022, justamente para fortalecer a presença em outros países, além de consolidar a plataforma para grandes clientes.
Um outro argumento de venda da empresa é a capacidade de avaliar o resultado de diferentes praças no lançamento de produtos. “O custo de lançamento é muito grande para as empresas, elas têm que cobrir o país inteiro mas não sabem exatamente onde há maior procura e onde há falta do produto. Nossa ferramenta dá essa camada de informação que ajuda na tomada de decisão mais qualificada”, comenta Fernando.
Ainda que o omnichannel seja um fator de diferenciação e que o comércio eletrônico esteja em ascensão, o CEO lembra do peso da venda física para o consumidor brasileiro: “o e-commerce representa 5% das vendas no país, 95% ainda é loja física. No Brasil, as lojas são majoritariamente offline“.
Mas não se sabe até quando.
*Fonte: Inova SC