Inovação e tecnologia ainda não deslancharam no Brasil
Além de aumentar sua capacidade de poupança e de investimento, o Brasil também precisa melhorar a produtividade e investir mais em inovação, segundo o professor Glauco Arbix, coordenador do Observatório de Inovação do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.
Além de aumentar sua capacidade de poupança e de investimento, o Brasil também precisa melhorar a produtividade e investir mais em inovação, segundo o professor Glauco Arbix, coordenador do Observatório de Inovação do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo.
Arbix defende um modelo de internacionalização das empresas brasileiras, com expansão em áreas intensivas de tecnologia, como forma de elevar a competitividade da economia. A China, segundo ele, destinou em 2009 US$ 200 milhões para essa finalidade. A maior exposição internacional é uma forma de absorver novos conhecimentos e aperfeiçoar os processos de inovação.
A produtividade no Brasil, segundo Arbix, não cresce de maneira virtuosa, sustentada na inovação e tecnologia. “Esse é o meio mais nobre de se elevar a produtividade, porque se baseia na qualificação e uso pleno do potencial das pessoas”.
Embora participe com 2% do PIB mundial, o Brasil é responsável por apenas 0,2% das patentes registradas. De acordo com a revista “The Economist”, a Coreia do Sul registrou 30 vezes mais patentes que o Brasil, lembra Jean-Pierre Lehmann, professor International Institute for Management Development (IMD), uma das maiores escolas de negócios da Europa. A meta conjunta do Governo e empresas é elevar o investimento em pesquisa e desenvolvimento para 1,5% do PIB em 2010. “Para a próxima década, isso será crucial para fazer do Brasil uma economia mais dinâmica e inovadora. O país precisa dar enormes saltos na produtividade, a fim de alavancar sua classificação de competitividade”, afirma Lehmann.
A tendência no Brasil é de, nos períodos de crise, adiar os projetos de maior risco e postergar as decisões que geram a inovação. “As economias mais aguerridas fazem exatamente o contrário”, diz Arbix ao relacionar Nokia, Microsoft, Google e Samsung como exemplos de empresas que nasceram, cresceram e globalizaram seus negócios em momentos em que as condições não eram as mais favoráveis.
O investimento em tecnologia é fundamental para o Brasil permanecer em vantagem nas áreas de produção de alimentos e de energia. “Já somos uma potência verde”, diz. Arbix acredita ser esse o grande trunfo do País em relação ao resto do mundo. Na área de energia, por exemplo, ele avalia que o Brasil está anos à frente da grande maioria dos países. “Somos um exemplo único no mundo porque temos uma matriz energética limpa e diversificada”.Com energia farta é possível, ao mesmo tempo, sustentar a produção agrícola.
O Brasil, segundo Arbix, é uma potência imbatível no etanol de primeira geração (extraído da moagem da cana). Trata-se de uma vantagem transitória, porém, pois já há pesquisas para desenvolver tecnologias de segunda geração – a partir da celulose. Para Arbix, a boa notícia é que o Brasil também investe nesse tipo de pesquisa e, desta vez, contando com a participação de empresas como Oxiteno, Braskem e Petrobras.
Como cada uma delas trabalha em áreas diferenciadas, Arbix julga importante a iniciativa do Ministério da Ciência e Tecnologia de instalar um centro de pesquisa de etanol de segunda geração em Campinas, no modelo multibancada. Trata-se de um grande laboratório público, porém integrado com as pesquisas de empresas privadas. “É um arranjo institucional forte, porque se pretende promover a convivência de várias vertentes de pesquisa, sem saber a priori qual será a mais promissora”.
Em relação às reservas do pré-sal, Arbix observa que o Brasil poderá não só extrair quantidades até então impensáveis de petróleo, mas também desenvolver tecnologia para injetar carbono em águas profundas e, assim fazer, a compensação ambiental do processo.
“Pelos estudos disponíveis, será possível injetar 20% a mais de carbono do que a quantidade produzida no processo de extração de petróleo. Significa que o Brasil terá condições de utilizar uma velha fonte fóssil, mas de uma maneira como se estivesse plantando florestas”.
Com a utilização mais intensiva da energia hidrelétrica, o Brasil , na visão de Arbix, pode se tornar uma potência energética com características diferentes e mais vantajosas do que China e Índia. “A comparação é favorável também em relação à Rússia, que é grande produtora de petróleo, mas adota políticas devastadoras para o meio ambiente”.
Valor Econômico