Investimento em inovação e P&D será o menos afetado pela crise
Com base em estimativas sobre o faturamento das empresas industriais, a pesquisa mostra que o investimento total feito no ano passado, de R$ 102,5 bilhões, cairá para R$ 81,1 bilhões em 2009. A redução, contudo, será menor nos investimentos feitos em inovação em gestão, produtos e processos e em P&D, quando comparada com a redução prevista no investimento em máquinas e equipamentos. Os empresários ouvidos prevêem diminuição de 2,3% no investimento em inovação em relação a 2008; e de 5,8% em P&D. Já a redução do investimento em máquinas e equipamentos deverá chegar a 27,4%. Essa queda deve afetar as metas da política industrial do Governo. Se confirmada, a queda no investimento da indústria em P&D fará de 2009 o ano de pior performance desde 2003, levando-se em conta o histórico da Pesquisa Industrial de Inovação Tecnológica (Pintec), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Do total de R$ 81,1 bilhões a serem investidos em 2009, R$ 17 bilhões devem ser aplicados em inovação e R$ 9,7 bilhões em P&D, contra R$ 17,4 bilhões em inovação e R$ 10,3 bilhões em P&D aplicados no ano passado. Em máquinas e equipamentos, as empresas aplicaram R$ 74,8 bilhões em 2008 e devem aportar R$ 54,3 bilhões neste ano, diz o relatório. Por conta desse fator, apesar da queda em relação aos números absolutos, os investimentos em inovação e P&D ganham importância relativa na parcela de investimentos totais. Quando se observa a divisão dos investimentos totais e os percentuais que cada item representa, os R$ 17 bilhões em inovação representam 21% do total a ser investido em 2009 pela indústria. Em 2008, esse item equivalia a 17% do total. Os R$ 9,7 bilhões em P&D previstos para este ano representam 12% das inversões a ser feitas no período. Os R$ 10,3 bilhões aplicados em P&D no ano passado corresponderam a 10% dos investimentos.
Para a pesquisa da Fiesp, a mudança estrutural dos investimentos ocorreu por dois motivos principais. Para explicar o menor impacto da crise nos investimentos em P&D e inovação, o relatório destaca a importância que a indústria tem dado ao desenvolvimento de novos produtos, novos processos de produção e melhorias de gestão diante da necessidade de produzir com mais eficiência para garantir melhores resultados. Já a redução no investimento em máquinas e equipamentos é explicada pela maior sensibilidade ao desaquecimento econômico, pois este leva a uma redução na produção, o que eleva a ociosidade da indústria e não incentiva a ampliação de oferta.
Projeções em relação ao PIB
As projeções da Fiesp mostram também que a diminuição da taxa de investimento sobre o Produto Interno Bruto (PIB) deve afetar as metas traçadas pelo governo federal no âmbito da Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP). A PDP, política industrial do Governo, tem como meta chegar a 21% do PIB em 2010. No caso dos investimentos em P&D, os números de 2008 ficaram abaixo das expectativas da política industrial. A meta era chegar a R$ 15,7 bilhões, mas o volume de recursos aplicado ficou em R$ 14,8 bilhões. "Como o PIB em 2008 teve um crescimento ligeiramente superior (5,1%) à meta da PDP (5%) e os dispêndios em P&D foram um pouco menores do que o esperado, o investimento privado em P&D como parcela do PIB atingiu 0,51% e não 0,55% como previsto na PDP", justifica a pesquisa.
O cenário em 2009 é igualmente sombrio: além da redução dos investimentos em P&D em termos absolutos, haverá queda quando considerado o investimento em relação ao PIB. A PDP previa que o investimento privado crescesse 0,05 ponto percentual ao ano, chegando a 0,6% do PIB em 2009. Para a Fiesp, os números mostram que essa meta está comprometida, já que, pelo impacto da crise na indústria, o investimento privado em P&D cairá 0,02 ponto percentual.
Pior indicador dos anos 2000
Outro alerta importante feito pelo estudo refere-se ao fato de que o investimento em P&D como parcela do faturamento das empresas cairá de 0,58% para 0,54%, nível inferior ao de 2003, (0,55%), quando também havia uma forte crise e foi registrado o pior resultado na série histórica da Pintec. O índice de 2009 deve ser até menor do que o registrado pela pesquisa do IBGE em 2003, o que mostra a profundidade da atual crise econômica.
Aumento do investimento público
O estudo da Fiesp projeta ainda uma ampliação da demanda por investimento público nas atividades privadas de P&D e inovação, "o que demonstra a importância da facilitação ao acesso às linhas específicas" para financiar essas atividades, diz o documento. Em 2008, 5% do investimento feito em inovação e 6% do feito em P&D foram recursos captados junto a instituições públicas de fomento, algo que deve quase dobrar em 2009.
Dos R$ 900 milhões de financiamento público em 2008 direcionados para as atividades de P&D&I das empresas, deve-se chegar a R$ 1,7 bilhão em 2009. Para este ano, o estudo da Fiesp prevê que 10% dos investimentos em inovação e 9% dos que serão feitos em P&D virão do setor público. "Esta opção em momentos de crise é a mais prudente, sobretudo porque a crise atual é uma crise eminentemente de confiança no mercado de crédito", justifica a pesquisa. Ou seja, "o principal impacto da mudança da conjuntura econômica deve ser a redução de importância dos recursos próprios e privados em direção ao aumento da parcela dos recursos de origem pública", aponta a Fiesp em seu estudo.
Ainda assim, a maior parte do dinheiro investido nessas atividades no setor privado continuará vindo de recursos próprios das empresas. No ano passado, 82% do dinheiro investido em inovação e 83% do aplicado em P&D vieram do caixa das empresas. Para 2009, a projeção é de diminuição desses números: 78% para inovação e 81% para P&D. O mesmo ocorre com o dinheiro captado em instituições privadas, na forma de funding: em 2008, 13% dos recursos aplicados foram obtidos dessa forma para inovação e 11% para P&D. Para 2009, a projeção indica 12% para inovação e 10% para P&D.
Objetivos dos investimentos
Os investimentos a serem feitos em 2009, constata a pesquisa, buscarão, principalmente, a redução de custos e o aumento de produtividade. Ou seja, as empresas pretendem garantir uma produção mais eficiente por meio de melhorias de gestão, aquisição de novas máquinas ou vão trabalhar com inovação e melhoria de produtos e processos. Ganhos de escala e inserção em novos mercados ficarão em segundo plano em 2009. A pesada carga tributária e a elevada taxa de juros continuam sendo apontadas como os grandes limitantes dos vários tipos de investimento.
Os números da Fiesp condizem com a análise de Fernanda de Negri, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a respeito da crise. "Em tecnologia, acredito que veremos investimentos em modernização, isso não deve ser muito reduzido. Haverá uma pressão para diminuição de custos, e como estão reduzindo a produção e demitindo, também precisarão se modernizar", afirma.
Análise por porte das empresas
A pesquisa da Fiesp mostra ainda que as pequenas empresas são as que mais investiram em inovação em 2008 e que deve ser assim também em 2009. Elas vão elevar, em relação ao faturamento, de 19% para 26% seus investimentos em inovação. As médias vão se destacar nos investimentos em P&D: de 9% do faturamento investido em 2008, passarão para 14%. As grandes devem investir mais em máquinas e equipamentos.
O perfil se explica pelas estratégias diferenciadas das empresas. As pequenas procuram aumentar o faturamento e a rentabilidade, focando o mercado para isso. Pretendem adquirir máquinas e equipamentos e desenvolver novos produtos. Essa estratégia pode estar combinada com a adequação dos equipamentos focada no desenvolvimento de novos produtos. As médias empresas pretendem cortar custos, daí investimentos em melhoria de gestão. Elas querem ganhar eficiência na produção, particularmente na organização do processo produtivo. As grandes empresas focam o mesmo objetivo: redução de custos. Mas pretendem fazer isso investindo em inovação e melhoria de processos, principalmente comprando máquinas e equipamentos mais modernos, para também aumentar a produtividade.
Análise por setor
Outra conclusão importante do estudo da Fiesp sobre os efeitos da crise econômica se refere à concentração da realização de investimentos da indústria em poucos setores: quatro deles (veículos, químicos, alimentos e bebidas e metalurgia básica) respondem por 53,1% do valor adicionado da indústria e foram responsáveis por 58,1% dos investimentos de 2008. Para 2009, a previsão é de que 61,3% dos investimentos venham novamente das empresas desses segmentos.
Em inovação, 21,2% dos investimentos serão feitos pelos produtores de veículos, 13,5% pelos de alimentos e bebidas, 13,9% pelos de químicos e 10,1% pela metalurgia básica, totalizando 58,7% dos investimentos em inovação previstos para 2009. Em P&D, o cenário se repete, com pouca mudança. O setor químico será responsável por 22,1% dos investimentos nessas atividades, seguido por veículos (13,4%), alimentos e bebidas (12,5%) e metalurgia básica (11,1%), totalizando 59% das intenções de investimento.
Os setores que elegeram como estratégia prioritária o investimento em inovação em processo são os de metalurgia básica, edição e impressão, têxtil e vestuário. Inovação em produto será a estratégia básica para produtos químicos, plástico e borracha, eletrônicos e informática. O setor de couros deve combinar estratégias que focam gestão e inovação em produtos. O setor de móveis deverá investir em gestão e inovação de processo. A combinação dessas três estratégias está presente nos planos de investimento dos setores de veículos e máquinas e equipamentos.