Jogo criado e desenvolvido por duas empresas associadas à ACATE auxilia na alfabetização e no tratamento da dislexia
Transformar o sonho em negócio. Foi esse desejo que levou a educadora Nadine Heisler a criar o jogo Domlexia – dom e as letras, pensado para auxiliar na alfabetização de crianças e ainda servir como tratamento para a dislexia.
Ela, que possui uma filha disléxica, sabe da importância do diagnóstico rápido desse transtorno, que segundo a Associação Brasileira de Dislexia, está presente entre 5% e 17% da população mundial. No Brasil, não existem percentuais concretos de pessoas com esse distúrbio, que é conhecido como “transtorno invisível”, por não apresentar uma característica física e pela dificuldade do diagnóstico, que deve ser feito por uma equipe multidisciplinar. Tendo isso em mente, Heisler colocou sua ideia em prática em 2017, quando inscreveu um projeto para o Brazil Global Impact Challenge, promovido anualmente pela Singularity University. Quando foi selecionada como uma das dez finalistas entre 107 concorrentes, ela percebeu que seu sonho poderia virar negócio.
Dois anos depois, a ideia foi desenvolvida em parceria com a empresa de desenvolvimento transmedia Explot, que criou um jogo em versão mobile – que é gratuita e está disponível nas lojas de aplicativos para Android e iPhone – e para computadores. No game, as crianças desenvolvem a consciência fonológica, que é a relação entre o som e o que é escrito, entre o fonema e grafema, que é a base da alfabetização, de acordo com Heisler. “Para cada fonema, ou seja, para cada letra do alfabeto, nós trabalhamos a sensibilização da criança para o som da letra – não para o nome -. Ela vai completando os joguinhos e ganhando sensibilidade. Quando for aprender a escrever, fica bem mais fácil, porque o cérebro já criou as conexões”, explica.
O jogo é indicado como complemento às aulas de alfabetização para alunos que tenham entre seis e sete anos de idade. É nessa época que a dislexia começa a se manifestar de forma mais clara, quando a criança demonstra dificuldade em soletrar as palavras, trocando letras. As pessoas que possuem esse tipo de transtorno têm pouca ativação cerebral das áreas auditivas e visuais durante a leitura.
A versão que é utilizada pelas escolas é a desenvolvida para computador, que oferece relatórios detalhados de cada aluno para o professor. O jogo é dividido em cinco ciclos, que duram 20 dias cada. Ao fim de cada ciclo, Heisler e Sabrina Vieira, sua sócia e fonoaudióloga, analisam o uso do jogo e repassam para os professores as crianças que têm mais dificuldade. “Não temos o objetivo de diagnosticar a dislexia, mas de chamar a atenção para que ela existe. Os dados americanos mostram que 80% da dificuldade de aprendizado vem desse tipo de transtorno. Além de o jogo trabalhar a melhor abordagem para disléxicos, ela também funciona muito bem para outras crianças”, destaca Heisler.
Parceria com a Explot
Após ter a ideia desenvolvida e reconhecida por uma premiação internacional, Heisler tratou de colocá-la em prática. Ela, que já fazia parte da Vertical Educação, uma das 13 Verticais de Negócios da ACATE, encontrou, por meio da Vertical Games, a Explot, desenvolvedora transmedia, que na época estava em processo de graduação pelo MIDITEC – incubadora gerida pela ACATE e mantida pelo Sebrae-SC. Na primeira reunião para conversar sobre o projeto, outra identificação pessoal. Luiza Guerreiro, CEO da Explot, e uma das embaixadoras do Grupo Temático Mulheres ACATE , também tem dislexia. Ela teve diagnóstico precoce, com seis anos de idade, e conseguiu o tratamento para esse transtorno ainda quando criança, mas o assunto sempre atraiu o seu interesse. Por isso, o serviço que a Explot prestou, de adaptação do conteúdo de ensino para o jogo, se tornou mais fácil.
De acordo com Luiza, o maior desafio para a empresa foi chamar a atenção das crianças para um conteúdo didático.“Tínhamos que fazer um jogo que mantivesse o propósito pedagógico, mas que também atraísse as crianças. De acordo com os dados que analisamos, esse objetivo foi cumprido. Elas continuam online mesmo após o término da aula”, destaca.
Reconhecendo a relevância do projeto, a Explot também doou parte do seu serviço para que o Domlexia pudesse sair do papel.
Domlexia no Cruz e Sousa
Após passar por um período de testes nas escolas públicas municipais de Florianópolis Osmar Cunha e Intendente Aricomedes da Silva, o jogo começou a ser utilizado nesta semana pelos alunos do colégio Cruz e Sousa. A parceria foi concretizada no LinkLab, programa de inovação aberta da ACATE que visa aproximar grandes e médias empresas ao ecossistema de inovação catarinense. É nesse espaço onde a Domlexia está instalada atualmente, enquanto realiza a implementação do jogo no Cruz e Sousa, que faz parte do grupo Cesusc, uma das corporates do LinkLab.
Heisler também já projeta os próximos passos. Ela planeja mais duas etapas para o jogo, que irá abordar a formação de palavras e as primeiras frases, concluindo o ciclo dos 1º e 2º anos do ensino fundamental. “Queremos desenvolver um material que gere uma consolidação maior da alfabetização e que continue auxiliando a identificar precocemente as crianças com dislexia”.
Outro desafio que ela coloca para o projeto é inseri-lo em escolas públicas. “Nosso maior sonho é disponibilizar o Domlexia nesses locais, onde podemos ter um impacto mais positivo, porque são crianças que não têm tanto acesso a terapia e tratamento”, ressalta.
Premiação
O Domlexia está entre os finalistas na categoria educacional do Brazil’s Independent Games Festival, considerado o maior evento do setor, que irá acontecer dos dias 26 a 30 de junho, em São Paulo. O jogo disputa a premiação com um projeto da Malásia, um do Canadá e outros dois do Brasil.
Além da mostra competitiva, o jogo também foi selecionado para ser pauta de uma mesa de discussão no Festival, que ocorrerá no dia 29. Luiza Guerreiro estará presente para apresentar o case do Domlexia.
Para mais informações sobre o Domlexia: https://www.domlexia.com.br/