Jovens incubados no MIDI Tecnológico falam à Epoca Negócios sobre Empreendedorismo
Marcos Passos, sócio da Bookess, e Rafael Maraina, sócio da ATTA Tráfego, fazem parte do seleto grupo de 14 jovens empreendedores que a Época Negócios selecionou para contarem sobre seus empreendimentos inovadores. Ambas as empresas estão instaladas no MIDI Tecnológico, incubadora gerenciada pela ACATE e mantida pelo Sebrae-SC.
Confira trechos da reportagem, publicada na edição de fevereiro da revista.
Marcos Passos, sócio da Bookess, e Rafael Maraina, sócio da ATTA Tráfego, fazem parte do seleto grupo de 14 jovens empreendedores que a Época Negócios selecionou para contarem sobre seus empreendimentos inovadores. Ambas as empresas estão instaladas no MIDI Tecnológico, incubadora gerenciada pela ACATE e mantida pelo Sebrae-SC.
Confira trechos da reportagem, publicada na edição de fevereiro da revista.
Eles fazem diferente (trecho)
Os jovens brasileiros empreendem cada vez mais e já são maioria nas novas empresas criadas no país. Mas nem todos inovam. Fomos atrás daqueles à frente de ideias desafiadoras, capazes de mudar a área de negócios em que atuam
Por Rafael Barifouse
Romero Rodrigues não condiz com a imagem de presidente de empresa tradicional. Em dezembro passado, entrou às pressas numa sala de reuniões do BuscaPé, em São Paulo, usando camisa social para fora da calça jeans e tênis. A barba estava por fazer e o cabelo cacheado exigiria um corte, em ambientes mais formais. À sua espera estava um presidente de empresa ainda mais atípico. Marcos Passos dirige uma pequena editora de livros digitais, a Bookess. Espinhas no rosto, aparelho nos dentes e brinco de brilhantes compõem o visual adolescente do rapaz de 20 anos. A timidez diante de Rodrigues era evidente. Enquanto para o executivo aquela era mais uma reunião de um dia corrido, para Passos, que havia saído de Florianópolis especialmente para o encontro, era a chance de conhecer alguém a quem se espera igualar um dia. O que perceberia naquela tarde é que eles já têm muito em comum.
Romero Rodrigues, 32 anos, criou com dois amigos o serviço de comparação de preços BuscaPé em 1998. Um deles queria comprar uma impressora e não encontrou um site do tipo na rede. Era a oportunidade de negócio que Rodrigues buscava. Para criar o sistema, o trio investiu R$ 100 cada e varou madrugadas. Na época, o comércio eletrônico no país gerava menos de R$ 500 milhões por ano, um vigésimo dos R$ 10 bilhões movimentados em 2009.
Marcos Passos também encontrou um nicho inexplorado há três anos, quando esqueceu de levar um livro em uma viagem. “Busquei uma versão na internet, mas só achei um arquivo ruim de ler no computador”, diz Passos, ao explicar sua inspiração para Rodrigues. No ar desde 2008, a Bookess oferece 2 mil títulos para downloads gratuitos e conta com 6 mil usuários. Trata-se de uma área tão nova e promissora quanto a do comércio eletrônico era para o BuscaPé, há uma década. Segundo a consultoria Global Industry Analysts, a venda de livros e leitores digitais podem gerar US$ 9,5 bilhões neste ano.
O início da Bookess também foi financiado por seu criador, com lucros de seu primeiro negócio. Aos 13 anos, Passos descobriu a internet. Enquanto seus amigos jogavam bola, ele aprendia a fazer sites. Logo criou o Nemesis School, sobre animes e mangás (desenhos e quadrinhos japoneses). No seu terceiro ano, o site já era um dos 50 mais acessados do país, com 50 mil visitas diárias. Como não conseguia pagar seus custos, o rapaz decidiu rentabilizá-lo com publicidade. “Os visitantes reclamaram, mas depois até clicavam nos anúncios para ajudar.”
Ele chegou a receber cheques mensais de US$ 2 mil do serviço de publicidade do Google em envelopes com a tarja Confidencial. “Minha tia achava que eu era hacker”, diz Passos. “Era mais fácil deixá-la pensar isso do que explicar o que eu fazia.” Aos 16 anos, ele coordenava uma equipe de 35 colaboradores. “O site não tinha mais para onde ir. Busquei novos desafios.”
“Sempre dizemos que o seu melhor site será o próximo”, diz Rodrigues, ao ouvir a história. O BuscaPé foi sua quarta tentativa. Inspirado pelo pai, que tinha uma empresa de construção civil, Rodrigues quis empreender desde os 14 anos. Conseguiu quatro anos depois, quando criou, com um amigo, uma empresa de software de gestão. Desistiram depois de três anos, ao ver que seria difícil atingir escala. Rodrigues ainda tentou, sem sucesso, obter uma representação comercial e fazer uma lotérica virtual. “Gostava de informática e sabia que não exigia muito investimento”, diz o engenheiro. “Meu plano B era trabalhar em banco ou consultoria.”
Passos tem a mesma paixão por tecnologia. Ele estava no segundo semestre de ciência da computação quando começou a Bookess. Chegou a ter a ajuda de seu coordenador de estágio, mas ele não cumpria os prazos. “Demiti meu chefe”, diz Passos. Um ano depois, com a primeira versão pronta, pesquisou na internet sobre empresas da área e modelos de plano de negócios, estruturou sua proposta e foi atrás de investidores. “Não bastava ter uma boa ideia, tinha de mostrar que podia dar dinheiro”, diz.
Há um ano, Passos trocou Campos dos Goytacazes, no interior do Rio, por Florianópolis, onde está a incubadora de empresas Midi Tecnológico, que abriga a Bookess, e o grupo investidor Floripa Angels, que se tornou seu sócio. Ele já planejou seus próximos passos: cobrar por downloads de livros e oferecer impressão sob demanda, quando o livro só vira papel após sua venda, o que evita encalhe e elimina o estoque. Hoje comanda nove pessoas. É o mais jovem.
Romero Rodrigues e Marcos Passos estão nos extremos de uma nova geração que vem mudando a forma de fazer negócios no país. A edição mais recente do estudo Global Entrepreneurship Monitor (GEM) mostra que jovens entre 18 e 34 anos estavam à frente de 6 milhões de empresas criadas no Brasil em 2008, 61% do total. “A cabeça do jovem se abriu. A mídia passou a mostrar com maior frequencia mais atividades empreendedoras, e todos os níveis de ensino incorporaram projetos de empreendedorismo. Isso elevou seu status na sociedade”, diz Paulo Alberto Bastos, diretor do Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), responsável pelo GEM no Brasil.
Mas essa leva de jovens empreendedores ainda está longe do ideal: 84% não chegaram à faculdade. Em média, têm 11 anos de estudo. A renda familiar de 88% deles é inferior a nove salários mínimos. “Eles abrem mão de acumular conhecimento ao empreender”, afirma Bastos. “Mas a chance de crescer sem uma boa formação é muito baixa.”
O esforço de Rodrigues compensou. O primeiro aporte de capital no BuscaPé, de US$ 150 mil, feito pelo fundo brasileiro e-Platform, veio logo no início. Em 2000, foi a vez de os bancos Merrill Lynch e Unibanco investirem US$ 3 milhões. A transação tinha como condição a busca pela rentabilidade. O trio de sócios do BuscaPé abriu mão do salário por dois anos e atingiu a meta. Em 2005, o fundo americano Great Hill adquiriu o controle do BuscaPé, e manteve os fundadores à frente do negócio.
Fonte: Época Negócios, Fevereiro 2010, http://epocanegocios.globo.com/Revista/Common/0,,EMI121109-16354,00-ELES+FAZEM+DIFERENTE+TRECHO.html