Mesmo com crise, software teve um ano saudável
Antônio Gil, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), explicou que, no ano de 2008, o mercado de software teve um crescimento muito saudável, superior a 12% ao ano. “No setor de relacionamento com o governo, que também foi importante para o setor, conseguimos a aprovação da Lei 11.774, que diferencia e incentiva o setor para a exportação, um acontecimento inédito e um passo importante para a indústria de TIC. Como a regulamentação ainda não saiu e há falta de mão-de-obra qualificada no setor, ainda não houve o crescimento esperado nas exportações este ano, que ficou abaixo dos US$ 2 bilhões previstos”.
Djalma Petit, diretor de mercado da Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro (SOFTEX), compartilha da opinião de que 2008 foi um bom ano para o setor de software. “Nossas expectativas projetam a manutenção da taxa de crescimento registrada nos anos anteriores. É claro que as empresas com foco no mercado externo sentiram, ao final do ano, os primeiro efeitos da crise econômica mundial, que acabou por gerar o adiamento de diversos projetos”.
Para o diretor da SOFTEX, a crise financeira global ainda não afetou o setor. “É interessante destacar que o mercado interno continuou aquecido. Não podemos nos esquecer de que as empresas brasileiras de TI, ao contrário das indianas, por exemplo, são menos dependentes dos investimentos oriundos do exterior”, diz.
“Ainda não aconteceu um impacto significativo, mesmo com as empresas focadas em refazer seus planos. Para a área de TI é um bom momento”, acrescenta Antonio Gil. “Historicamente, a TI se mostra independente do crescimento ou diminuição do Produto Interno Bruto (PIB). Como é usada para controlar negócios e reduzir custos, esta indústria é indiferente a isso. TI é um elemento de aumento da competitividade das empresas, e economicamente tem um papel importante”.
Perspectiva para 2009
O presidente da Brasscom acredita que o mundo vai controlar a crise buscando maneiras de fazer coisas mais baratas, o que o leva à procura do offshore outsourcing. “Esta é uma oportunidade para o Brasil, já que vai tornar o País mais competitivo. Neste momento, o Brasil deve agressivamente perseguir o offshore outsourcing. Esta é a hora do Brasil direcionar todas as suas forças para este mercado”, enfatiza Gil.
Para Petit, a crise trará reflexos, mas ainda é cedo para uma avaliação precisa do seu real impacto. “No mercado internacional, as empresas norte-americanas e européias podem acelerar seus processos de terceirização na busca por menores custos. Este novo cenário pode vir a ser um importante gerador de oportunidades para as empresas brasileiras de TI, em que pese o pensamento do presidente eleito dos Estados Unidos no sentido de buscar preservar os postos de trabalho no front interno”.
“Em nosso mercado interno, deverá ser observada uma redução na taxa de crescimento em comparação com os números registrados neste ano de 2008. Tal retração poderá ser compensada caso se confirme a opção das companhias dos EUA e da Europa pela terceirização em seus projetos. Outra variável a ser considerada é a exploração por empresas brasileiras de novos mercados, menos impactados pela crise mundial, em especial aqueles em que o processo de informatização de pequenas e médias empresas ainda está em curso”, conclui Djalma Petit.
Crise econômica traça novo cenário na área de software
As mudanças nas perspectivas futuras do cenário econômico mundial já desenham novos movimentos no segmento de software. Com a crise, a área financeira volta a ter maior controle sobre as decisões de investimentos nas empresas, direcionando as oportunidades especificamente para os sistemas que têm impacto direto sobre as vendas, controle de desempenho e de custos. É o que prevê o analista de software para a América Latina da IDC, Julio Pagani, na tentativa de identificar as oportunidades de negócio nesse segmento, frente às novas prioridades que virão com as mudanças na economia.
Segundo Pagani, o ano de 2007 registrou crescimento em praticamente todas as áreas: Banco de Dados, Middleware, Portais, ERP, Supply Chain e Segurança. “Já o primeiro semestre de 2008 caracterizou-se, principalmente, por um crescimento concentrado em ERP, CRM, gerenciamento de sistemas e redes. A partir deste momento, os investimentos, com certeza, voltarão para o básico”.
Futuros investimentos em software irão se destacar pela possibilidade de um maior incremento nas vendas, controle do desempenho e de custos. O segmento de CRM, por exemplo, deverá receber mais investimentos das empresas, especificamente nas suas funcionalidades relativas às vendas. “Neste caso, o retorno poderá ocorrer rapidamente, seja com uma redução do ciclo médio de vendas, geração de novas oportunidades, aumento do ticket médio, entre outros”, avalia.
Também o software de ERP continuará a atrair investimentos. “Estes, por sua vez, estarão concentrados especialmente nos módulos associados ao controle de custos e despesas, como as funcionalidades de estoque, compras, gestão de ativos e performance financeira”, prevê o analista.
Ainda nessa linha, Pagani aponta oportunidades de negócios nas soluções de BI (Business Intelligence), já que num momento de crise os gestores precisam minimamente de um painel de indicadores para controlar o desempenho de sua área e reportar-se às suas instâncias superiores, que voltarão a monitorá-lo mais de perto.” Além disso, atendendo à necessidade de reduzir custos, os softwares específicos para virtualização também atrairão investimentos pela melhoria do gerenciamento de dados.
É aí que as empresas devem obter economia significativa com a racionalização das compras de hardware e otimização do espaço nos data centers”, sinaliza Waldemar Schuster, analista regional da IDC.
Por outro lado, Pagani acredita que, com a crise, os projetos de SOA serão impactados negativamente, bem como as aplicações verticalizadas específicas para determinada indústria. Os projetos relativos à convergência, que englobam a integração de sistemas, também serão postergardos.