Microempresa precisa de pouco investimento para inovar
As necessidades de recursos para inovação das micro e pequenas empresas brasileiras estão muito distantes das linhas oferecidas para esse fim. Enquanto as subvenções como as da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) têm valor mínimo de R$ 100 mil, metade das MPEs (Micro e Pequenas Empresas) do País usa recursos inferiores a R$ 3.000 a fim de implementar inovações de processo, produtos ou expansão de mercado.
As necessidades de recursos para inovação das micro e pequenas empresas brasileiras estão muito distantes das linhas oferecidas para esse fim. Enquanto as subvenções como as da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos) têm valor mínimo de R$ 100 mil, metade das MPEs (Micro e Pequenas Empresas) do País usa recursos inferiores a R$ 3.000 a fim de implementar inovações de processo, produtos ou expansão de mercado.
Esse é o resultado da pesquisa Inovação e Competitividade nas MPEs Brasileiras, feita pelo Serviço Brasileiro de apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP) com 4.200 empresas.
“Os pequenos não precisam de valores altos para inovar”, afirma Edson Fermann, gerente da Unidade de Acesso à Inovação e Tecnologia do Sebrae nacional, a respeito das chamadas de subvenção.
Às MPEs, a entidade perguntou se fizeram inovação em produto, processo ou serviço entre outubro de 2007 e 2008. Foram consideradas muito inovadoras as que aprimoraram as três áreas, inovadoras as que o fizeram em pelo menos uma e não inovadoras as que não apresentaram melhorias.
Com a pesquisa, vê-se que as regiões Norte e Sul lideram alguns aspectos importantes da inovação. O Sul é a região em que o cliente é mais ouvido: 40% das inovações foram resultado da demanda deles, ante 30% do resto do País.
Já o Norte foi onde as pequenas mais lançaram produtos ou serviços: 32% ante 24,5% das demais regiões.
No quesito competitividade, o monitoramento de fluxo de caixa e o de mercado são os acompanhamentos mais realizados pelas empresas de pequeno porte, em 83% e 82% delas, respectivamente.
Para Fermann, esse dois itens são os primeiros passos para inovação. “Não adianta querer ser inovador e não monitorar fluxo de caixa e a concorrência”, diz. Os próximos, aponta, são o relacionamento com funcionários, clientes e fornecedores.
“Ninguém quer mais fazer “achômetro”, ouvir o cliente é muito mais seguro. Isso foi muito usado para controle de qualidade e é a tendência para a inovação”, afirma Fermann.
Crédito do BNDES a micro e pequenas empresas triplica e atinge R$ 1,6 bi
Acostumado a grandes obras de infraestrutura e projetos empresariais bilionários, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) cada vez mais financia as micro e pequenas empresas. Os desembolsos do Cartão BNDES triplicaram, somando R$ 1,6 bilhão até setembro. Parte desse resultado foi obtido com a ampliação do uso do cartão, que agora pode ser utilizado para a aquisição de insumos e de materiais de construção. Mas a mudança que mais favorece o empreendedorismo foi adotada em julho, quando passou a ser permitida a contratação de serviços necessários à inovação, como registro de patentes e testes de produtos.
Até então, o cartão – destinado às empresas com faturamento anual de até R$ 60 milhões – era permitido apenas para a compra de itens de investimento, como computadores, carros e equipamentos comuns aos setores de comércio e serviços, como balcões, mesas, cadeiras e frigoríficos.
Com as ampliações, o cartão pode ser utilizado para a compra de até 120 mil itens de 100 mil fornecedores diferentes.
A ampliação do cartão foi aproveitada por Rita Pereira e Adriana Amaral, da Comptrom Computadores. Acostumadas a usar o cartão tanto para comprar como para vender, elas foram as pioneiras na contratação de serviços de inovação.
“Acompanhamos as novidades do Cartão BNDES e, assim que soubemos da abertura para serviços de inovação, contratamos um teste de R$ 7 mil para a radiação eletromagnética de nossos computadores, o que nos permitirá ter um certificado do Inmetro e participar das grandes licitações”, diz Rita.
Adriana conta que 25% das vendas da empresa – que monta computadores na Bahia – são realizadas com o Cartão BNDES.
O restante da produção, de cerca de quatro mil máquinas por mês montadas por 26 empregados, vai ao mercado governamental, com os leilões públicos.
“Entramos no site do banco e ligamos para todos os demais fornecedores, oferecendo nossos produtos, e fechamos muitos negócios assim”, conta.
O cartão é considerado um sucesso pelo banco. No total, o crédito pré-aprovado a essas empresas soma R$ 8,1 bilhões.
Para Rodrigo Bacellar, chefe do Departamento de Operações de Internet do BNDES, o aumento dos desembolsos neste ano prova que os pequenos empreendedores sempre investiram no País, mesmo com a crise: “No início do ano estávamos realizando desembolsos na casa de R$ 100 milhões por mês, o que prova que o pequeno empreendedor continuou investindo no País mesmo nos piores momentos da crise. Agora, com a retomada econômica e as ampliações do cartão, os desembolsos estão na casa dos R$ 300 milhões por mês”, afirmou.
Liberação de crédito é imediata no cartão
Ele explica que somente neste ano 70 mil empresas adquiriram o cartão, que pode ter limite de até R$ 500 mil por banco emissor.
Ele lembra ainda que o volume vai aumentar, pois em outubro outro grande banco privado vai se somar aos atuais emissores do cartão: Banco do Brasil, Bradesco, Caixa Econômica Federal e Nossa Caixa.
“O cartão é obtido de forma simples, junto ao banco, que só pede uma carta de fiança, como no aluguel de um imóvel”, diz.
Bacellar conta que 97% dos cartões estão nas mãos dos micro e pequenos empresários. O valor médio da transação é de R$ 15 mil, que pode ser parcelada em 48 vezes, com juros que agora estão em 0,97%.
“Até temos linhas melhores para micro e pequenas empresas, mas que normalmente dependem de um projeto aprovado”. Com o cartão, a liberação é imediata, como um cartão de crédito normal, ideal quando surge uma oportunidade rápida ou quando uma máquina quebra, exemplifica.
O BNDES deve, cada vez mais, ampliar o uso do cartão para a compra de insumos. Várias cadeias produtivas estão sendo estudadas. Addison Freitas, dono da Thiamo Malhas, de Petrópolis, comemora: “Pela primeira vez sinto que tenho as mesmas condições que as grandes empresas. Com o cartão, agora compro em outubro fios que vou usar apenas na coleção de inverno, que entregarei nas lojas em março”,afirma o empresário, que emprega 40 pessoas em sua fábrica e em seis lojas. “Sem o cartão, teria que me descapitalizar”, completou.
Folha de S.Paulo