MIDI Tecnológico no Valor Econômico
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Mulheres lideram projetos inovadores no país
A executiva Cátia Jourdan tirou o salto e subiu o morro.
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Mulheres lideram projetos inovadores no país
A executiva Cátia Jourdan tirou o salto e subiu o morro. Antes de ser gerente da Incubadora Social de Comunidades do Instituto Gênesis, da PUC-RJ, a formação como psicóloga a ajudou a atender novos empreendedores no Morro do Pereirão, no Rio Janeiro. Ao mesmo tempo, para adquirir mais habilidades na área de negócios, cumpriu um MBA em administração. "Minha meta era melhorar a auto-estima das empresas, alavancar oportunidades de trabalho e afinar a relação delas com a população carente do entorno". Graças ao seu trabalho, assumiu a gerência da instituição, em 2006.
As incubadoras oferecem apoio gerencial e técnico para micro e pequenas empresas interessadas em desenvolver novos projetos. Hoje, o Instituto Gênesis abriga três delas, todas gerenciadas por executivas. A unidade de Cátia tem quatro empreendimentos incubados e dois a caminho. Em 2009, graças a um aporte de US$ 150 mil do Banco Mundial, vai montar na Vila Parque da Cidade, no bairro da Gávea, um centro de tecnologia com dez computadores, acesso à internet e uma cozinha-escola. "Vamos desenvolver in loco o potencial empreendedor dos habitantes do lugar."
Sem saber, Cátia faz parte de um movimento observado na área do empreendedorismo inovador no Brasil. Uma pesquisa realizada no segundo semestre deste ano constatou que as mulheres estão tomando conta dos cargos de chefia de incubadoras e parques tecnológicos no país- uma área tradicionalmente masculina. Hoje, 48,6% dos parques e incubadoras são liderados por executivas.
O estudo "Mulheres Empreendedoras: Gênero e Trabalho nas Incubadoras de Empresas e Parques Tecnológicos" foi realizado pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec), em parceria com a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ITCP/UFRJ). O Brasil tem 400 incubadoras e parques que geram 33 mil empregos e abrigam mais de 6 mil companhias.
"O levantamento retrata transformações ocorridas na sociedade brasileira nas três últimas décadas, em relação à inserção das mulheres no mercado de trabalho", aponta o coordenador da pesquisa, Gonçalo Guimarães. A análise mostrou que mais de 40% das profissionais da área de inovação têm de 26 a 35 anos, 50% delas são pós-graduadas e conseguiram um nível de escolaridade melhor do que o que viam dentro de casa: mais de 30% declararam que suas mães só concluíram o primeiro grau.
Os dados mostraram também que 41,8% das profissionais são casadas, 48,1% são mães e 51,9% não têm filhos. "Há relatos de perda de emprego por causa da família", comenta o antropólogo e pesquisador Marcelo Ramos, consultor da Anprotec para a realização do estudo.
Segundo Ramos, os números constroem um cenário pouco comum para os padrões de inserção da mulher no ambiente produtivo. "Pesquisas mostram que na faixa etária de 30 a 40 anos, quando elas se tornam mães ou estão criando os filhos, há uma queda de participação no mercado de trabalho. Em campos tradicionalmente masculinos, o número de executivas nos cargos diretivos era, até pouco tempo atrás, inexpressivo", diz. "Foi surpreendente encontrar esse volume de mulheres jovens ocupando posições de coordenação e direção."
Embora batam cartão em áreas de ponta do empreendedorismo, as pesquisadas também se deparam com algumas ilhas de atraso. De cem entrevistadas, 45% afirmaram ter sofrido ou presenciado algum tipo de preconceito relativo à idade ou pelo simples fato de serem mulheres. "Mesmo com um alto nível de formação e de ocuparem cargos de direção, 50,7% das pesquisadas dizem que, com a mesma escolaridade e funções, ganham menos que os colegas homens". Entre as entrevistadas, apenas 17% do total recebem salários acima de R$ 2,5 mil.
Para Henry Etzkowitz, professor de gestão da inovação da Universidade de Newcastle, na Inglaterra, a mulher tem trocado a vida acadêmica por outras atividades. Etzkowitz coordena o projeto "As Mulheres na Inovação, Ciência e Tecnologia na Inglaterra", que estuda o comportamento de pesquisadoras e cientistas no setor.
Em visita ao Brasil, o especialista afirma que a necessidade de anos de estudo e a demanda por produção científica batem de frente com o período fértil da mulher. "O sistema caminha no sentido contrário ao relógio biológico feminino", diz. Etzkowitz acredita que exigências como a mudança ou a permanência em uma cidade ou país para a realização de mestrados e doutorados são pontos limitadores da presença da mulher no meio acadêmico.
Para ele, a diminuição da participação feminina na ciência pode estar relacionada com o crescimento da quantidade de mulheres no setor do empreendedorismo inovador. "Elas mostram habilidades como articulação e socialização, que lhes garantem vantagens nesse campo."
Em Belém (PA), a engenheira civil e mestre em engenharia de produção Verônica Nagata não reclama da dupla jornada. Além de ser coordenadora da Rede de Incubadoras de Tecnologia (RITU) da Universidade do Estado do Pará (UEPA), ensina empreendedorismo e gestão da qualidade para alunos da graduação e pós-graduação da instituição.
Casada, com uma filha, coordena a incubadora desde 2002. Antes, era responsável pela área de engenharia de produção da rede, que tem 11 empresas incubadas e oito em período de pré-incubação- cinco já foram graduadas. A presença feminina fala alto entre os negócios da unidade paraense: 54,5% das empresas também são chefiadas por mulheres.
Entre as companhias supervisionadas por Verônica, a Coopsai desenvolve brinquedos educativos a partir de madeira reaproveitada para crianças de três a 12 anos, enquanto a Mamma Di Mais, especializada em tecnologia de alimentos, cria massas utilizando elementos da culinária amazônica, como o jambu e o açaí.
Em Florianópolis (SC), a coordenadora da incubadora Micro Distrito Industrial de Informática (MIDI), Jamile Marques, já tem uma longa história no centro que dirige. "Em dez anos de atuação da incubadora, já graduamos 41 empresas". Administradora e mestranda em gestão da inovação, Jamile é casada, tem dois filhos e cuida da incubadora desde 2004. Ex-executiva da Kodak, mantém 13 companhias incubadas e vai receber mais duas em breve. "Mais de 90% das empresas graduadas aqui obtiveram sucesso no mercado, um número superior à média nacional dos negócios que passam por incubadoras, que é de 80%", comemora.
É o caso da Pixeon, que deixou o MIDI em 2005. Especializada no desenvolvimento de produtos para o setor hospitalar, criou um sistema que faz o armazenamento, interpretação, distribuição e gerenciamento de exames médicos em formato digital. Segundo Jamile, a Pixeon cresceu mais de 250% em 2007. No último ano, o faturamento da empresa saltou de R$ 550 mil para R$ 1,4 milhão e a previsão para 2008 é chegar a R$ 2,1 milhões.
Para o professor Geraldo Borin, coordenador do curso de empreendedorismo e gestão da PUC-SP, a participação feminina na área da inovação é uma conseqüência natural do avanço da mulher no mercado de trabalho. No curso coordenado por Borin, que já formou 200 alunos em quatro anos, 50% dos diplomados são mulheres e a maioria tem entre 25 e 35 anos.
Segundo ele, para gerenciar uma incubadora, o profissional, independentemente do sexo, deve possuir bom conhecimento sobre negócios, ter vivência em processos administrativos da atividade de incubação, além de conhecer novas tecnologias e a legislação dos segmentos onde irá atuar. "Frente a um empreendimento, as mulheres revelam uma percepção mais intuitiva da viabilidade econômica das empresas, enquanto os homens são inclinados a elaborar planos financeiros mais técnicos."
De acordo com Jamile Marques, da incubadora MIDI, de Santa Catarina, o setor de tecnologia ainda é dominado pelos homens, mas é notório o crescimento da ocupação feminina nas empresas da área, principalmente nos postos gerenciais. "Já temos incubadas em Florianópolis onde as mulheres são a maioria do capital humano", garante a executiva.