Opinião ACATE: Elas são minoria, infelizmente
Por Daniel Leipnitz, presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE)
Por Daniel Leipnitz, presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE)
“Meninos são melhores em matemática” foi o que a gente se acostumou a ouvir e talvez até tenhamos reproduzido esta frase aos nossos filhos. Ela pode ser verdade em alguns contextos, mas o motivo é um só: diferenças culturais. Sim, é o modo como as crianças são criadas e educadas que reflete num resultado como o do Enem de 2017, no qual os homens alcançaram 41,8 pontos a mais do que mulheres na disciplina. Em entrevista que li sobre o tema, o professor de neurociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Roberto Lent explica que embora cérebros de pessoas de sexos diferentes não sejam iguais, isso não afeta a cognição em áreas do raciocínio lógico, nem a inteligência. Ou seja, a falta de incentivo das famílias e das escolas é o que realmente influencia na baixa identificação de muitas meninas com os números.
Não estimular as mulheres desde cedo em áreas como matemática, ciências e negócios é o primeiro passo para que elas sejam minoria em setores como o da tecnologia. Ainda são poucas as que optam por engenharia ou outros cursos relacionados à programação. Basta entrar numa sala de aula de áreas como essas, tanto na graduação quanto em curso técnico, para perceber que elas são minoria.
Nas empresas catarinenses de tecnologia, responsáveis por 50 mil empregos no Estado, apenas 19 mil são mulheres – isso representa 38,4% do total. Se você visitar o Google, o Facebook, a Apple, ou a maioria das empresas de tecnologia do Brasil e de nosso estado, perceberá que elas são minoria.
A S&P, maior fonte mundial de conceitos baseados em índices, dados e pesquisa, mostra que apenas 20% das maiores empresas do mundo têm pelo menos uma diretora. No Vale do Silício, maior polo tecnológico do mundo, este número cai para 10%. Se você colocar todas as pessoas com cargo de liderança numa sala, de todas as empresas – e especialmente as de tecnologia -, verá que elas são minoria.
E não, a gente não precisa de mais mulheres em nossas empresas e em cargos de liderança porque elas são mais compreensivas, pacientes, delicadas. Isso é o que a gente espera delas, e quando fazemos isso estamos apenas reforçando estereótipos. O setor tecnológico precisa de mais mulheres porque elas são tão competentes quanto os homens, e simplesmente não faz sentido representarem muito menos do que a metade deles nas empresas da área.
Tratem suas crianças igualmente. Estimulem suas meninas a fazer cálculos. A tecnologia é uma das atividades econômicas mais importantes para o futuro e elas precisam fazer parte disso. E do que mais elas quiserem.
*Artigo publicado originalmente no Diário Catarinense, em 07/03/2018