Parceria com polos regionais e compartilhamento de ações: a estratégia de estadualização da inovação em SC
A diversidade econômica e a formação de vários polos regionais marcou a história, a cultura e o desenvolvimento de Santa Catarina. Ao longo do século XX, diferentes segmentos da indústria (metal-mecânica, têxtil, carbonífera, moveleira, agronegócios) moldaram as característica econômicas do Oeste, Serra, Norte, Vale do Itajaí, Sul e Litoral.
E se essas regiões pudessem, à época, fazer um intercâmbio de informações e melhores práticas entre si, para entender o que poderia ser replicado e criar conexões entre as diferentes realidades locais?
O que não foi possível fazer no passado hoje se tornou uma estratégia para estadualizar iniciativas e programas de desenvolvimento de tecnologia e inovação em Santa Catarina, reduzindo a disparidade regional neste setor.
Enquanto algumas regiões do estado já despontam no cenário nacional com ecossistemas em expansão, outras ainda dão os primeiros passos em termos de programas e iniciativas de inovação. Segundo o estudo Tech Report 2020, três regiões – Grande Florianópolis, Vale do Itajaí e Norte – concentram 78,6% do total de empresas de tecnologia e 89,1% do faturamento do setor de Santa Catarina.
“Existe uma disparidade de maturidade entre os polos, mas isso é natural. Florianópolis teve que acelerar, porque a vocação econômica local não suportava o setor industrial, então a tecnologia foi o caminho que a cidade encontrou para se desenvolver de maneira sustentável, sem depender da sazonalidade do turismo e também saindo um pouco do setor público”, avalia Iomani Engelmann, presidente da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE).
Em termos de estado, comenta, “há um potencial natural se os polos aproveitarem suas vocações e é o que está acontecendo”. O Planalto Serrano e a região Sul do estado são as que percentualmente mais estão crescendo no mercado de tecnologia do estado, aponta anualmente o estudo Tech Report. Outras cidades do interior também se destacam com suas empresas-referência, como Brusque, sede da Hiper, startup de tecnologia para o varejo comprada em 2019 pela Linx; e Concórdia, berço da Compufour, vendida em setembro por R$ 100 milhões para uma multinacional italiana.
Uma das formas que a entidade buscou para apoiar o desenvolvimento regional foi estadualizar suas ações, a partir de parcerias com polos locais e do compartilhamento de experiências, metodologias e benefícios às empresas associadas, além de um programa de apoio à governança e captação de receitas. A adesão é crescente: em 2018, a ACATE tinha 117 empresas associadas por meio da parceria com os polos regionais, número que chegou a 230 no final de 2019 e, até setembro, era de aproximadamente 350.
REDE DE POLOS REGIONAIS CONVENIADOS À ACATE:
BLUSOFT | Médio Vale do Itajaí (Blumenau) |
NIAVI/ACIRS | Alto Vale do Itajaí (Rio do Sul) |
NUTI/ACII | Vale do Itajaí/Litoral (Itajaí) |
ORION PARQUE | Planalto Serrano (Lages) |
DEATEC | Oeste (Chapecó) |
SOFTVILLE | Norte (Joinville) |
NTI / ACIT | Sul (Tubarão) |
NBT / ACIC | Sul (Criciúma) |
CITI | Brusque |
ACATE | Grande Florianópolis |
A partir de entrevistas com os diretores regionais, a ACATE está desenvolvendo um mapeamento completo e inédito do ecossistema de Santa Catarina.
“Precisamos levar inovação para todo o estado. Algumas regiões já têm um mercado maduro, outras estão em fases bem distintas do desenvolvimento, mas todas essas experiências precisam ser compartilhadas. Por isso estamos fazendo reuniões quinzenais com todos os polos”, comenta Nelissa Branco, vice-presidente de Integração da ACATE e também do Orion Parque Tecnológico, inaugurado em 2016 e que tem sido um ponto de referência para a criação de um ecossistema de tecnologia em Lages.
A região Serrana conta com apenas 3% do total de empresas do setor em SC, mas nos últimos três anos tem desenvolvido uma série de programas de inovação envolvendo mercado, comunidade e academia. Hoje o Orion conta com 140 empresas vinculadas, onde trabalham 1,8 mil pessoas, com um faturamento total de R$ 155 milhões e R$ 12 milhões de impostos recolhidos.
ENCONTROS ONLINE AJUDAM A CONECTAR EMPREENDEDORES DE TODO O ESTADO
O “novo normal” digital tem sido um aliado nesse processo. “Como todos os eventos e encontros agora são virtuais, acabamos conectando empreendedores de todo o estado, por exemplo, para reuniões como as das Verticais de Negócio, que até a pandemia eram somente presenciais. Isto foi um grande diferencial para empresas de outras regiões do estado”, ressalta Nelissa.
Há vários programas que foram validados em algumas regiões e podem ser aplicados em outras, como o Entra 21, iniciativa de formação profissional liderada há 15 anos pela Blusoft, em Blumenau, e que capacita cerca de 350 jovens/ano na região. Agora, está sendo estruturado pela vice-presidência de Talentos da ACATE, liderada pelo cofundador da Softplan, Moacir Marafon, para atender outras regiões do estado.
“Com o mapeamento, podemos entender o que cada região precisa de acordo com sua fase de desenvolvimento e o que pode ser replicado para cada necessidade. Essa integração e o fortalecimento regional são preocupações que temos para ajudar no crescimento de todo o estado”, diz a vice-presidente.
Em Chapecó, por exemplo, o polo local associado DEATEC vai inaugurar em novembro deste ano um Centro de Inovação nos mesmos moldes e conceito do CIA ACATE Primavera, em Florianópolis. “O setor de tecnologia no Oeste fatura R$ 1 bilhão por ano e o total de empresas representa 10% do estado, mas estamos muito espalhados. Nem todos vão se mudar, mas queremos concentrar ações e encontros no local, materializar nosso ecossistema”, diz Sinara Perosa, presidente do Deatec.
No Norte do estado, a ACATE levou o programa de inovação aberta LinkLab para o Ágora Tech Park – em uma iniciativa que ajudou a conectar grandes indústrias da região ao ambiente de startups, projeto já consolidado em Florianópolis e que, desde 2019, também roda no município de São José.
“Um dos grandes diferenciais do ecossistema de Santa Catarina é que ele está se mantendo descentralizado, aproveitando a vocação econômica de cada região para que os polos de tecnologia também se mantenham diversificados”, conclui Iomani.
ECOSSISTEMAS SÃO REGIONAIS, NÃO MUNICIPAIS
Santa Catarina, lembra o empresário, “tem o privilégio de ser uma das maiores economias digitais do país (4ª) e o melhor desempenho per capita. Essa é uma economia real, sustentável, inovadora e que já representa mais de 5% do PIB do estado. Tudo isso começou com a base de educação técnica de qualidade das universidades e o apoio de governos estadual e municipais para que esse setor prosperasse sem interferências e com uma relação positiva para tratar de questões de interesse do segmento e de cada região” resume o diretor do polo da Grande Florianópolis.
AÇÕES DE ESTADUALIZAÇÃO DA INOVAÇÃO EM SC:
- Parcerias e compartilhamento de benefícios e projetos da ACATE com nove polos regionais conveniados: Blusoft, NIAVI/ACIRS, Orion Parque, Deatec, Softville, Núcleos de Tecnologia em Tubarão, Criciúma e Itajaí, CITI/Brusque e Acate/Florianópolis.
- Reuniões quinzenais com grupo de diretores regionais, desde junho/2020;
- Criação de um mapeamento do ecossistema de TI regional em Santa Catarina;
- Reuniões quinzenais entre as equipes de operação e comunicação dos polos e da Acate;
- Estadualização dos programas estratégicos ACATE: Verticais de Negócios, LinkLab, MiDITEC e Grupos Temáticos
- Agenda única com todas iniciativas e eventos realizados pelos Programas Estratégicos da ACATE e seus polos regionais;
- Fundo Garantidor ACATE
- Serviços e Benefícios disponíveis para empresas de todo o estado (como planos de saúde, odontológicos, cartões benefício, previdência, etc)
- Utilização da infraestrutura da entidade em cidades como Boston, São Paulo, Joinville, Florianópolis e São José.
- Assessoria de relações governamentais, em pautas de interesse do setor em todo o estado e em âmbito federal;
*Fonte: SC Inova
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