Pesquisa: empresário brasileiro não investe em inovação
Entre os países que realizaram a pesquisa em 2008, o Brasil possui uma das mais baixas taxas de lançamento de produtos novos (desconhecidos para o consumidor) e de uso de tecnologias disponíveis há menos de um ano no mercado.
Entre os países que realizaram a pesquisa em 2008, o Brasil possui uma das mais baixas taxas de lançamento de produtos novos (desconhecidos para o consumidor) e de uso de tecnologias disponíveis há menos de um ano no mercado. Em uma lista de 43 países, considerando os empreendimentos iniciais (até três anos e meio no mercado), o Brasil ocupa o 42º no ranking. Quando avaliados os empreendimentos já estabelecidos (com mais de três anos e meio no mercado) o Brasil ocupa o 38º lugar. Do total de empreendedores ouvidos pela pesquisa GEM, somente 3,3% afirmam que seus produtos podem ser considerados novos para os clientes.
Apesar das evidências pouco expressivas sobre o papel da inovação nas empresas brasileiras, pela primeira vez a GEM reúne informações quanto às preferências de consumo da população por novos produtos e serviços. Há dados otimistas que mostram que 33% dos entrevistados, entre não-empreendedores, comprariam produtos novos. Trinta e seis por cento desse contingente também experimentariam produtos ou serviços que usam novas tecnologias. As informações da GEM apontam que, caso as empresas invistam em novos produtos, podem ampliar muito sua clientela.
A pesquisa traz informações referentes aos próprios empreendedores e como pensam a inovação. O estudo diz que a faixa de empreendedores em estágio inicial que mais se destaca favoravelmente em relação à absorção de novos produtos e serviços é a de pessoas com idade entre 25 a 34 anos. Nessa faixa etária, 75% dos empreendedores consideram que as novidades podem melhorar seus negócios.
Observando a realidade da América Latina, percebe-se o contraste do Brasil com os países próximos, pois os empreendimentos iniciais da região estão entre os primeiros no ranking de lançamentos de produtos novos para os consumidores.
No Chile, 36,4% dos empreendimentos iniciais lançam produtos novos; na Argentina e Uruguai, 30%; e no Peru, 29%. Para os empreendimentos já estabelecidos, a posição se altera, mas continua elevada para esses países. O Chile é o primeiro do ranking, com 37% de empreendedores lançando produtos novos; a Argentina tem 28%, e o Peru, 21%.
Em relação ao Bris (Brasil, Rússia, Índia e África do Sul), a comparação também não favorece o Brasil. Rússia e África do Sul apresentam taxas de lançamento de produtos novos para todos os consumidores acima de 20%, estando também entre as dez primeiras posições nesse ranking entre os países pesquisados pela GEM 2008. Somente a Índia apresenta baixa participação de produtos novos lançados no mercado (10%), embora a proporção seja bem superior à do Brasil (3%).
O Brasil também apresenta baixa proporção de uso de tecnologias novas: 1,7% dos empreendimentos iniciais e 0,7% estabelecidos usam tecnologias disponíveis há menos de um ano. No caso de uso de novas tecnologias, o Chile atinge 33%. Nos países do Bris, a Índia apresenta uma proporção de 28%; a África do Sul tem 25% de empreendimentos que usam tecnologias novas.
A pesquisa GEM aponta que instituições como o Sebrae, cooperativas de produção e Arranjos Produtivos Locais (APL) "são alternativas promissoras para enfrentar essas questões". Para o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, é preciso disseminar a cultura da inovação nas micro e pequenas brasileiras. "Esta cultura precisa estar presente no dia-a-dia das empresas. Significa um desafio para o Governo, para o Sebrae e para outras instituições fazer com que a inovação se torne parte da realidade de nossas empresas", ressalta Okamotto.
O gerente nacional de Atendimento do Sebrae, Enio Pinto, destaca que a Instituição tem desenvolvido ações para disseminar a inovação. O Sebrae criou o Projeto Agentes Locais de Inovação. Por meio da iniciativa, profissionais de diferentes especialidades levam conceitos de inovação para dentro de micro e pequenas empresas. Em maio, o Sebrae lança um programa de rádio integrado ao Portal Sebrae e à Central de Relacionamento da Instituição (0800 570 0800). Serão 120 episódios com casos de sucesso, informações e orientações para quem deseja inovar.
Brasil é o terceiro país mais empreendedor do G20
Ainda de acordo com a pesquisa, o Brasil é o terceiro mais empreendedor entre os países que fazem parte do G20 financeiro (que reúne as nações mais ricas e principais emergentes), atrás apenas da Argentina e do México. Em 2008, foram entrevistadas 2.000 pessoas no Brasil e 124.721 no mundo.
Dos membros do G20, a Rússia é o país com a menor Taxa de Empreendedores em Estágio Inicial (TEA). A Argentina obteve uma taxa de 16,5%, seguida por México (13,1%) e o Brasil (12,02%). A Rússia registrou taxa de 3,49%.
Pela primeira vez em nove anos, a GEM opta por utilizar o G20 como recorte analítico. A escolha foi motivada pela posição do país como presidente do grupo no ano passado, que é formado pelos ministros da Economia e presidentes de bancos centrais de 19 países: África do Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, Coréia do Sul, França, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Rússia, Turquia, Reino Unido e Estados Unidos. A União Europeia também é membro.
Apesar de integrarem o G20, não participaram da pesquisa Austrália, Canadá, China, Indonésia, Arábia Saudita e União Europeia. Juntos, os países-membros representam cerca de 90% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial, 80% do comércio internacional (incluindo o comércio interno da UE).
"O Brasil já passou pela fase de altas taxas de empreendedorismo, característica de países muito pobres, como Bolívia, Peru, Angola. Nós estamos no mesmo patamar do México, Chile e Uruguai", afirma o diretor-técnico do Sebrae Nacional, Luiz Carlos Barboza. A TEA apresentada pelo Brasil em 2008 (12%) ficou próxima das taxas obtidas por Uruguai (11,90%) e Chile (13,08%) e semelhante também às apresentadas por Índia (11,49%) e México (13,1%).
Outra mudança ocorreu no nível de empreendimentos já estabelecidos (mais de 3,5 anos no mercado), que subiu de 2,3% em 2006 para 4,9% em 2008. O empreendedorismo em estágio inicial alcançou 13,3% (9,3% de empreendedores nascentes e 4% de novos empreendedores), enquanto os empreendimentos já estabelecidos alcançaram 4,9% da população adulta.
Os empreendedores nascentes são aqueles que estão à frente de negócios em implantação e os novos, aqueles cujos negócios já estão em funcionamento e geram remuneração por pelo menos três meses.
Ranking geral
O Brasil em 2008 passou a ocupar a 13ª posição no ranking geral mundial (entre os 43 países pesquisados). A entrada de novos países na pesquisa realizada pela GEM 2008, como Bolívia, Angola, Macedônia e Egito, fez com que o Brasil, pela primeira vez desde que a pesquisa foi iniciada, ficasse fora do grupo dos dez países com maiores taxas de empreendedorismo.
"Em relação ao número de empreendedores, a posição dos países no topo e na base do ranking se altera", explica o Sebrae uma vez que países muito desenvolvidos não "precisariam" de tanto empreendedorismo.
Segundo a pesquisa, a Índia é o país com a maior população de indivíduos desempenhando alguma atividade empreendedora (76,04 milhões). Em seguida vêm os Estados Unidos com 20 milhões e, em terceiro, o Brasil, com 14,6 milhões. "Por características do próprio povo, os Estados Unidos são o único país desenvolvido que figura entre os cinco primeiros no quesito número de empreendedores", diz o Sebrae.
Do outro lado do ranking, está a Islândia, com 18 mil empreendedores, a Eslovênia, com 86 mil e a Letônia, com 96 mil pessoas empreendendo.
Sobre os dados compilados apenas no Brasil, o Sebrae apontou uma alta no número de pessoas que decidem abrir um negócio por oportunidade. A GEM revela que, para cada brasileiro que empreende por necessidade, há dois que o fazem por oportunidade. Pela primeira vez desde que é realizada no Brasil, a pesquisa aponta a inversão no número dos que empreendem por oportunidade e por necessidade.
O número total de empreendedores no país é de 14,6 milhões, o equivalente a aproximadamente 12% da população adulta. A taxa de empreendedores brasileiros por oportunidade ficou em 8,03%, com cerca de 9,78 milhões de pessoas. Já a taxa de empreendedores por necessidade está em 3,95%, com aproximadamente 4,81 milhões de empreendedores.
Empreendedores serão fundamentais para superar crise
Segundo o economista Marcelo Neri, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), a capacidade empreendedora do brasileiro será um elemento central para superar os efeitos da crise financeira internacional no país. "O brasileiro se acostumou com o fato de comer três vezes ao dia e não vai baixar o padrão de vida por conta de uma crise. Tudo leva a crer que as pessoas vão à luta para continuar consumindo", afirmou.
Para Neri, o Brasil está em posição privilegiada, porque já está acostumado com crise e sabe lidar com adversidades. "Nós vivemos de crise em crise e aprendemos a sair bem de situações difíceis. Somos como o Ayrton Senna (tricampeão mundial de automobilismo, morto em 1994): corremos melhor na chuva".
Neri vê o empreendedorismo dos brasileiros como um colchão "que tem tudo para virar um trampolim". "Ainda são necessárias políticas sociais para pequenos empreendedores, como conceder crédito e educação, que é o passaporte para os novos mercados". Segundo o professor, o consumo de uma família de empreendedores cresce 28% depois da tomada do primeiro empréstimo. "O lucro aumenta em 35%", disse ele.
Metodologia
A pesquisa GEM é executada há nove anos no País pelo IBQP com patrocínio do Sebrae e do Sesi-Senai, apoio técnico da Universidade Positivo, apoio institucional da PUC do Paraná e coordenação internacional da London Business School, do Babson College e da Gera (pessoa jurídica responsável pela pesquisa GEM).
A GEM mede as taxas de empreendedorismo mundiais, reunindo dados estatísticos de 43 países. O estudo é referência internacional. Seus conteúdos contribuem para o desenvolvimento de ações em benefício dos empreendedores no mundo inteiro.
Para avaliar o nível da atividade empreendedora de cada país, entrevistam-se membros da população adulta (18 a 64 anos de idade), selecionados por meio de amostra probabilística de cada país participante. Os empreendedores identificados são classificados conforme seu estágio empresarial, sua motivação para empreender e suas características demográficas. Em 2008, foram entrevistadas duas mil pessoas no Brasil e 124.721 pessoas no mundo.