Startups de SC usam Inteligência Artificial para detectar câncer e impulsionar turismo
A ascensão meteórica do setor de tecnologia de Santa Catarina, tornou o Estado o segundo maior em número de startups do Brasil, atrás apenas de São Paulo, segundo dados da Associação Brasileiras de Startups (Abstartups). De olho nas tendências mundiais, novas empresas têm se destacado com soluções inovadoras usando Inteligência Artificial (IA) para resolver problemas de segurança, turismo e até melhorar exames de mamografia.
Em meio ao entusiasmo com o surgimento do ChatGPT, a IA já provou que além de muito útil, pode ser revolucionária. Para o vice-presidente de marketing da Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE), Walmoli Gerber Jr., não há necessidade para tanto pânico. Ao invés disso, as pessoas e empresas devem focar em como ela pode ajudar:
— Não creio que seja algo tão assustador. Ela vai mudar uma série de profissões, sim, mas também vai ajudar a criar outras, como quase todas as inovações tecnológicas que vieram antes. O recado que eu costumo dar é o seguinte: precisamos aprender a usar a Inteligência Artificial o mais rápido possível onde ela ajuda no nosso dia a dia.
Enquanto muitos discutem o impacto da tecnologia, outros já correram para usar a Inteligência Artificial o mais rápido possível. O NSC Total listou três startups que nasceram em Santa Catarina e têm ganhado visibilidade pelas soluções inovadoras.
Smart Tour
A coleta e análise de dados tem sido um desafio para o setor de turismo, o que, consequentemente, dificulta a criação de estratégias e melhorias. Com uso de vários tipos de tecnologia — Inteligência Artificial, QR Code, Internet das Coisas, entre outras — a startup Smart Tour, lançada em 2018, tem ajudado a coletar e traduzir essas informações para os gestores públicos, como prefeituras e secretarias de turismo, além de outros órgãos que tomam decisões na área.
Uma das formas utilizadas pela empresa para coletar os dados é por meio dos beacons, aparelhos que ficam dentro de placas espalhadas por pontos turísticos de uma cidade. Ao apontar o celular para o QR Code, o turista recebe conteúdo, como curiosidades sobre aquele local, e o beacon coleta os dados da pessoa. Em Florianópolis, a tecnologia já está em 17 pontos.
Outro meio utilizado para conseguir informações dos visitantes é por meio de geolocalização, por aplicativos usados pelas pessoas.
É importante destacar que a empresa não coleta dados pessoais sensíveis, ou seja, não há interesse em saber quem é aquela pessoa, somente mapear o fluxo e comportamento dos turistas, como os valores que são gastos, de onde as pessoas vêm, como elas chegaram na cidade, quantos dias vão ficar aqui, entre outros, como explica a fundadora da Smart Tour, Jucelha Carvalho.
Apesar de ter sido fundada em 2018, foi só no ano passado que a startup começou a utilizar Inteligência Artificial, com o objetivo de traduzir as informações coletadas aos gestores.
— Até o ano passado, quando começamos a implementar a IA, a gente entregava só as informações para o gestor. Só que os gestores não sabiam olhar para os dados e transformar isso em ações efetivas. Quando a IA entrou, isso ficou mais fácil, porque o sistema especialista começou a analisar […] Você consegue hoje entender de uma forma simples e prática o que todos esses dados estão falando — explica Jucelha.
A IA é capaz de detectar problemas públicos, sugerir ações de melhoria e identificar padrões e tendências nos destinos monitorados. Isso possibilita a tomada de ações para melhorar a infraestrutura e os serviços turísticos. O sistema da Smart Tour está integrado à API do GPT-4 da OpenAI, uma das tecnologias mais avançadas na área.
De acordo com a fundadora, é um sistema complexo, do ponto de vista de arquitetura, mas é simples na ponta. Ou seja, chega para o gestor de forma muito clara.
A startup já monitora mais de 1 mil pontos turísticos no Brasil em 135 cidades, sendo que o maior foco em números está no Nordeste, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em Santa Catarina, a empresa atua em Florianópolis, Urubici, Mafra e Jaraguá do Sul.
Aquila
A startup Aquila nasceu para solucionar um problema bem específico de clínicas de imagem e hospitais: a falta de precisão dos exames de mamografia, que acabam gerando muitos resultados falsos negativos. O objetivo dos três fundadores Rodrigo Greco, Fernando Peixoto e Dr. Aron Belfer, foi criar uma inteligência artificial para garantir que as técnicas e máquinas de mamografia vão fazer um exame bem-feito.
— Começamos fazendo uma ferramenta de apoio ao diagnóstico, mas vimos que não adianta ter um bom diagnóstico sem uma imagem bem feita, e como não tinha nada nessa área decidimos fazer — relata o co-fundador Rodrigo Greco.
Posicionamento errado e uma pressão ou muito alta ou muito baixa, fazem com que os radiologistas, profissionais responsáveis pela realização dos exames, percam até 26% da sensibilidade, ou seja, geram mais resultados falso negativos, explica Greco.
— Quase um terço dos problemas não são causados por um radiologista, mas por uma imagem mal feita. E isso acontece muito. Erros de posicionamento são muito frequentes em clínicas e hospitais — explica.
Com sede em Florianópolis, a startup foi criada em 2019 e já tem clientes no Brasil e nos Estados Unidos. Entre eles estão o Centro de diagnóstico médico por imagem MamaImagem, em São Paulo.
Deconve
Ao contrário das outras duas startups que foram criadas com objetivo de resolver um problema de uma área específica, a Deconve nasceu em 2017, em Florianópolis, com o objetivo de ser uma empresa de Inteligência Artificial. Os fundadores, Rodrigo Tessari e Hermeson Barbosa da Costa, perceberam que a tecnologia tinha um futuro promissor, e desenvolveram soluções que hoje são usadas por grandes empresas catarinenses: a Havan e o Grupo Almeida Júnior.
— A gente começou a ver a possibilidade desse tipo de tecnologia ser empregada na indústria brasileira em diferentes setores: tanto na indústria pesada quanto no varejo. Vimos que isso era uma tendência nos países mais desenvolvidos, principalmente China, Estados Unidos e Europa, mas o Brasil estava um pouco atrasado, tinha poucas empresas que desenvolviam soluções na prática — relata o co-fundador Rodrigo Tessari.
A primeira solução foi desenvolvida para coletar dados do mundo físico a partir de câmeras de vídeo, ajudando na estratégia de diversos tipos de negócios. Em uma linguagem simples, programas de computadores ensinam as câmeras de videomonitoramento a enxergar como se fossem humanos, e com isso elas conseguem extrair algumas informações da imagem.
— Nosso programa permite que as câmeras identifiquem uma pessoa na cena e realizem a contagem de quantas pessoas entraram e saíram do ambiente. Isso pode ser usado no varejo físico para saber o fluxo de visitante numa loja. […] Esse é o nosso foco, agregar a inteligência de analytics para sistemas de videomonitoramento que já existem — explica Tessari.
Em 2019, a solução foi comprada pelo grupo Almeida Júnior, que tem seis shoppings centers em Santa Catarina. A partir dessa primeira parceria, a startup começou a desenvolver outras tecnologias, com foco no varejo físico.
A mais recente solução desenvolvida, tem o objetivo de diminuir os prejuízos financeiros das lojas evitando fraudes. Através do reconhecimento facial é possível verificar, por exemplo, se a pessoa que está fazendo o pagamento não está usando o cartão de outra pessoa. Essa tecnologia começou a ser utilizada pela Havan.
IA é só hype?
Para o vice-presidente de marketing da ACATE, Walmoli Gerber Jr.,independente de ser só hype ou não, como foi o metaverso, empresas que já desenvolveram ou estão desenvolvendo soluções específicas usando Inteligência Artificial estarão a frente do mercado.
— As empresas que tinham soluções de IA mais generalistas, essas com certeza serão mais impactadas, podendo ficar ultrapassadas.Quem tem soluções mais específicas pode se sobressair. Essa é uma tecnologia com bastante potencial. Em linhas gerais, acredito que soluções de IA voltadas para nichos têm potencial para abrir um novo leque de possibilidades — opina.